sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Onde está o ator ?
Não há teatro sem ator. Não há ator onde não haja o comprometimento com a arte, com a cultura. Com objetivos claros de comunicação, com o espectador. Não há ator onde não haja um profissional culto, participativo, solidário e crítico sobre o meio que está ligado. Um profissional ético e com excelência técnica.Que assuma com determinação suas escolhas e opções.Que desenvolva sua responsabilidade com prazer, levado pela vontade de crescimento.
Onde inexiste o ator culto e com excelência técnica, há um teatro que copia a si próprio, repetidamente, padronizado por estéticas enlatadas, estático. Há uma fórmula teatral viciada, um mercantilismo oportunista que transforma a arte num produto de prateleiras de supermercado de elites. Há um teatro pobre de idéias. Há a própria superficialidade.
Recentemente Antunes Filho afirmou que no Brasil de hoje, o principal inimigo do teatro é o próprio ator. Despolitizado, intelectualmente oco, sem o compromisso do viver teatral. Aquele que com todas as letras afirma amar o teatro, mas que sequer sabe como se chamavam as três filhas de Lear.
No Brasil de hoje, o ator, por incrível que pareça, só vai ao teatro quando há a oportunidade do palco. Raramente está na platéia. Não vai ao teatro. Não lê teatro. Não fala teatro. Não discute teatro.
Há àqueles que atravessam toda uma existência “profissional” sem se dar o prazer de conhecer letras de Tchécov, Ibsen, Shiller, Sófocles, Beckett, Oduvaldo Viana Filho, Strindberg, Shakespeare... “Interpretam” sem nunca ouvir falar de Stanislaviski, Mayerhold, Artaud...
Para que não digam que só criticamos, que só denunciamos, que aparecemos como possuídos por uma verdade, que não pretendemos, propusemos a criação de um espaço onde o fazer teatral possa ser refletido, analisado, pesquisado e experimentado, aberto à participação de toda a comunidade, de todos os criadores.
Acreditamos que já passamos da hora da convivência cultural. Da convivência artística. Convivência de experiências artísticas e pedagógicas. Convivência para um saber que necessita renovar-se.
Assim como diz Augusto Boal: “Toda gente poderá fazer teatro até mesmo os atores”!!!
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Gregor Samsa Vive
Acho que sonhei vendo televisão ontem. Mais que isso: acho que tive um pesadelo kafikiano. Não pode ser realidade. Na TV THATHI, que exibia sessão da Câmara Municipal, o vereador Cícero Gomes da Silva, irado na tribuna, dizia ser impossível trabalhar na “casa” sem apresentar projetos inconstitucionais.
Em outro canal o Jornal da Globo apresentava pela milésima vez uma reportagem “completa” entrevistando casais que devido à crise estavam trocando viagens internacionais por pacotes turísticos no Nordeste.
Enquanto isso, o país pegando fogo. A polícia devolvendo uma jovem ao cárcere privado. Policiais civis e militares trocando tiros e tentando invadir o Palácio do Governo usando armas, gasolina e veículos fornecidos pelo Estado. Em Porto Alegre, o Governo Estadual botando os milicos na rua, mandou soltar a pua, bater, matar e prender. Em Ribeirão Preto, mãe de cinco filho menores era presa em flagrante ao tentar furtar uma lata de sardinhas num supermercado do Ipiranga.
Então viva o senhor Gregor Samsa que foi criado apenas para dizer, através da metáfora de sua existência, que as baratas são seres indispensáveis para a manutenção da natureza, ao funcionamento sistemático dela.
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