sábado, 25 de julho de 2009

Hoje umas palavras de William Shakespeare



Eu aprendi
que a melhor sala de aula do mundo está
aos pés de uma pessoa mais velha;

[só o partilhar das experiências de quem já se encarregou de as arrancar dos dias, nos permite construir uma sabedoria útil]

Eu aprendi
que ter uma criança adormecida nos braços é um dos momentos mais pacíficos do mundo;

[não há nada mais apaziguador do que sustentar nos braços a respiração tranquila do sono de uma criança]

Eu aprendi
que ser gentil é mais importante do que estar certo;

[o tratamento cordial que prestamos às pessoas com quem nos relacionamos fomenta uma convivência salutar]

Eu aprendi
que nunca se deve negar um presente a uma criança;

[certamente que uma das piores coisas é desfazer as ilusões que povoam a inocência de uma criança, portanto, porquê acabar com essa magia?]

Eu aprendi
que eu sempre posso fazer uma prece por alguém
quando não tenho a força para ajudá-lo de alguma outra forma;

[quando desejamos para alguém algo com muita intensidade (como o único modo que nos resta para ajudar), a força do nosso desejo contribui para a sua concretização]

Eu aprendi
que não importa quanta seriedade a vida exija de você,
cada um de nós precisa de um amigo brincalhão para se divertir junto;

[sem dúvida que sem um (no mínimo!) amigo brincalhão por perto seria impossível aguentar a seriedade que a vida nos impõe]

Eu aprendi
que algumas vezes tudo o que precisamos é de uma mão para segurar
e um coração para nos entender;

[é na segurança de uma mão que se estende a compreensão, a paciência e a presença e é num coração puro que se oferece o melhor da vida]

Eu aprendi
que os passeios simples com meu pai em volta do quarteirão nas noites de verão quando eu era criança fizeram maravilhas para mim quando me tornei adulto;

[as vivências que os nossos pais nos proporcionam são manuais importantes para regermos a nossa vida quando ela ganha proporções de responsabilidade]

Eu aprendi
que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos;

[é com aquilo que Deus nos nega que aprendemos a contornar as dificuldades e a descobrir as alternativas]

Eu aprendi
que dinheiro não compra "classe";

[o dinheiro deve ser colocado ao serviço das nossas necessidades e ter sempre presente que o que verdadeiramente importa não tem um preço venal, conquista-se]

Eu aprendi
que são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espectacular;

[este é um dos segredos para não deixarmos que os dias passem por nós de uma forma leviana e fugidia, temos que prestar atenção ao dia de hoje, para que possamos guardar o ontem e desenhar um amanhã mais risonho]

Eu aprendi
que debaixo da "casca grossa" existe uma pessoa que deseja ser apreciada, compreendida e amada;

[todos nós temos as nossas fragilidades, os nossos momentos de desânimo e exaustão, e basta apenas a disponibilidade de uns ouvidos para escutar e pureza de um coração para interpretar como deve ser]

Eu aprendi
que Deus não fez tudo num só dia; o que me faz pensar que eu possa?

[não se faz tudo num dia, mas devemos fazer o máximo que estiver ao nosso alcance em cada dia]

Eu aprendi
que ignorar os factos não os altera;

[por mais custoso que seja o acto de encarar de frente os factos que preferiríamos não ver, eles não desaparecem por fecharmos os olhos]

Eu aprendi
que quando você planeja se nivelar com alguém, apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você;

[não conseguimos evitar que nos magoem, porém está nas nossas mãos limitar o tempo e as condições em que nos continuam a magoar]

Eu aprendi
que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;

[se bem que o tempo cura as feridas de um amor]

Eu aprendi
que a maneira mais fácil para eu crescer como pessoa é cercar-me de gente mais inteligente do que eu;

[o outro é sempre mais inteligente do que nós num qualquer aspecto, embora a maioria das vezes nos esqueçamos que, de facto, temos sempre muito a aprender com qualquer pessoa]

Eu aprendi
que cada pessoa que a gente conhece deve ser saudada com um sorriso;

[haverá melhor forma de brindar um desconhecido?]

Eu aprendi
que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;

[ainda que digam que o amor nos deixa “cegos”, não é menos verdade que o seu poder transformador é o único caminho para procurar a perfeição possível]

Eu aprendi
que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;

[não deixa de ser complicado quando as circunstâncias da vida são demasiado duras e a nossa força começa a desfalecer; eis que surge a necessidade de ressurgir com a força de um gigante que evite que desistamos da essência dos nossos sonhos]

Eu aprendi
que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.

[há um reaproveitamento constante das escolhas que fazemos, é como uma encruzilhada, na qual estamos todos ligados: as escolhas de que eu abdiquei corresponderão às primeiras opções de outra pessoa]

Eu aprendi
que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar;

[costumo defender que os portos seguros demoram muito tempo a descobrir-se e que a felicidade não pára sempre nem por muito tempo no mesmo lugar]

Eu aprendi
que devemos sempre ter palavras doces e gentis pois amanhã talvez tenhamos que engoli-las;

[guardemos as palavras doces e gentis para quando elas nasçam da alma e possam ser devidamente entendidas e valorizadas]

Eu aprendi
que um sorriso é a maneira mais barata de melhorar sua aparência;

[qualquer um se pode submeter (sem prejuízo do seu livre-arbítrio) à doce ditadura do sorriso]

Eu aprendi
que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito;

[podemos sempre admitir, contrariar ou ignorar o que sentimos, mas jamais podemos evitar que isso tenha influências em nós]

Eu aprendi
que todos querem viver no topo da montanha, mas
toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a;

[o gozo de chegar às metas não existe na dimensão do pico atingido; se não formos retirando dos obstáculos, que vamos ultrapassando, a força da persistência e o orgulho de lhes sobreviver]

Eu aprendi
que só se deve dar conselho em duas ocasiões: quando é pedido ou quando é caso de vida ou morte;

[eu defendo mais a ideia pessoana de que dar um conselho é não respeitar a faculdade de o outro errar e aprender a seguir]

Eu aprendi
Que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.

[quanto menor é o tempo disponível, mais as nossas capacidades de gestão de tempo, tarefas e afectos são exploradas e, consequentemente, enriquecidas]

William Shakespeare

Eu aprendi com estas palavras que, às vezes, é à mesa de um café, num momento impreciso de uma noite fresca de Verão, que alguém, de uma forma simples e intuitiva (mas certeira!), nos recorda algumas evidências e nos atinge no ponto necessário

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O mendigo ou o cão morto


Em “A História da Tigresa” o dramaturgo italiano e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1997, Dario Fo conta um soldado ferido na guerra e que abandonado pelos colegas no meio da floresta, é salvo por um tigre com quem passa a ter uma relação familiar.A convivência com o tigre o faz enxergar a alma humana, reconhecendo fraquezas nas relações de poder. Ao se recuperar dos ferimentos, ele retorna ao campo de batalha, desta vez com seus princípios renovados e a prepotência de um governo totalitarista que se configura como inimigo do próprio povo, alienando-o para lutar uma guerra em defesa de uma ideologia burguesa e mesquinha.

Bertolt Brecht, o maior dramaturgo alemão de todos os tempos,em “O Mendigo ou o Cão Morto”, conta um típico imperador que coloca em exercício toda a soberba, mediocridade e prepotência que emerge do ego imperial de alguém que pensa ter “vencido” um inimigo, execrando como um nada um mendigo que encontra a porta do seu palácio no momento em que comemora a sua “vitória”. Cabe então ao mendigo, acompanhado de seu cachorro morto, mostrar a este homem o quão medíocre ele é, desarmando-o com palavras e fazendo-o sucumbir pela própria soberba. Numa relação de amor e humildade, ele mostra a relação de interdependência que vivemos, podendo ter mais valia para um súdito, um cão morto de que seu imperador, vindo da guerra, traz consigo a vitória.
Lembrei-me destes dois textos ao ler hoje o noticiário nacional. Posso garantir que Brecht e Fo escreveram durante o século passado. Qualquer semelhança com histórias destes tempos presentes ou semelhança com presidentes da república ou senado seria apenas um exercício de uma visão repugnante que tiveram do futuro.
agilsonfilho@gmail.com

terça-feira, 7 de julho de 2009

Rúbia, ficção ou realidade?



Rúbia tem vinte e poucos anos. Trabalha comigo há cinco. É ruiva natural. Olhos claríssimos. Ficam entre o verde e o azul. É levemente tímida. Uma timidez zen. Uma menina como outra qualquer, mas que difere em muito daqueles de sua geração. Rúbia é culta de maneira natural. Tão natural quanto à cor de seus cabelos. Quando não está nas filas dos bancos, no serviço geral ou fazendo aulas de teatro, lê Dostoiévsky, Gorki, Tchékhov,Machado, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa com a facilidade de um velho intelectual.
Fala pouco de si mas, fala muito quanto o assunto trata de seus ídolos ou daqueles que atualmente despreza com todas suas forças.
A quem despreza? A classe política.
Esse desprezo está causando dor e problemas a minha “secretária”, digamos assim.
É que mês passado Rúbia foi premiada num concurso literário oferecido pelo governo do Maranhão. O prêmio de R$ 5 mil incluía passagens áreas até São Luiz e estadia por uma semana em hotel de luxo.
Lá se foi Rúbia com seus cabelos ruivos naturais, olhos claríssimos que ficam entre o verde e azul e a timidez zen.
Durante uma semana participou de workshops literários, foi ao teatro, ao cinema, a bibliotecas... Fez amizade com outras jovens também premiadas em outros Estados.
No penúltimo dia resolveu por conta própria dar umas bandas por aí. Inadivertidamente foi parar num bairro conhecido por Liberdade.
Em Liberdade viu a miséria de perto. Não essa miséria que estamos habituados ver em ruas ou favelas de São Paulo, Rio...
Conta que viu a miséria extrema. Viu de perto à família lumpem, que só conhecia dos livros de Dostoiévsky,Gorky, Tchékov...
Conta que a ela foi oferecida uma garotinha de 12 anos por R$50, garota que poderia lhe servir como doméstica, ou seja, escrava pelo resto da vida em São Paulo ou para onde a “compradora” a levasse.
Ao último dia estava reservada uma cerimônia na Academia Maranhense de Letras. Rúbia pediu a palavra. Deram palavra a uma menina ruiva tingida de revolta, olhos injetados e sem timidez alguma.
Durante quinze minutos a paulista de Ribeirão Preto contou a experiência vivida em Liberdade. Falou sobre luta de classes, da fome, de revolta, da podridão destinada aos estratos inferiores da sociedade. Contrapôs Liberdade com a Ilha de Curupu, reserva ambiental que pertence a “famíglia” Sarney.
De volta ao hotel encontrou sua mala já no saguão. Informaram que sua estadia estava vencida. No aeroporto ficou sabendo que a passagem de volta fora cancelada.
Na rodoviária tomou um ônibus com o pouco que tinha na bolsa. Chegou ontem a Ribeirão Preto depois de cinco dias de viagem.
Hoje pela manhã Rúbia apareceu para trabalhar. Vestia camiseta preta com retrato de Che Guevara e onde se podia ler : Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.
Ah, no caminho de volta, Rúbia leu num restaurante de beira de estrada que Lula estava defendendo Sarney. Foi por isso que pintou “PT Nunca Mais” bem abaixo da frase do Che estampada na camiseta.
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