quarta-feira, 26 de novembro de 2008
África Ensina
Beira (Moçambique) – Malua, de catorze anos de idade, apaixona-se por Ângelo de quinze anos, um colega da escola. Ele quer ter relações sexuais com ela, mas ela consegue convencê-lo a esperar e continuam a sua amizade, apoiando-se mutuamente nos estudos. No entanto, quando o pai de Malua descobre sobre Ângelo, entra em pânico porque quer que a sua filha se case com um amigo de 40 anos que tem muito dinheiro para lhe pagar um bom dote pelo casamento. Ele diz à mãe de Malua que a sua filha tem de sair da escola para casar com um homem mais velho.
Os pedidos desesperados da mãe de Malua para que a filha continue na escola caem em ouvidos surdos e tornam o seu marido agressivo. Malua está desesperada, mas é obrigada a deixar os estudos, abdicar do rapaz de quem gosta e casar com o homem mais velho. Após alguns anos, o marido morre vítima de doença relacionada com a AIDS, deixando-a também infectada com HIV.
Por acaso, Ângelo encontra-se com ela. De início não reconhece Malua, que envelheceu bastante, mas quando a reconhece, declara-lhe o seu amor eterno. Malua sente o mesmo, mas, explica que tem oito filhos para cuidar e que é soropositiva. Ângelo desiste dela. A história de Malua é uma peça de teatro encenada para uma multidão atenta no mercado de Munhava, o subúrbio mais populoso da Cidade da Beira na província de Sofala, num sábado à tarde.
“O que faria você se fosse Malua? Conseguiria convencer Ângelo a ficar?” pergunta ao público motivado o Curinga Zaibota do grupo de teatro de Kurarama. O público tenta, vestir as roupas de Malua e convencer Ângelo a ficar com ela. Tanto mulheres como homens estão ansiosos por participar no teatro.
A maioria não consegue mudar o curso da peça apesar dos seus esforços ansiosos. Inês, de vinte e três anos de idade, voluntaria-se para participar na peça. Ela argumenta, de forma persuasiva, que é importante deixar Malua continuar a estudar, realçando o valor da educação. O ator do grupo de teatro que faz o papel do pai olha para ela como se estivesse a mudar de idéias. No entanto, é o público que tem de decidir se os argumentos de Inês são convincentes.
O Curinga pergunta à multidão, “A Inês mudou a situação?” A multidão concorda. “Sim,” gritam entusiasmados. A rapariga recebe uma T-shirt de recompensa. Inês, casada e com um filho de colo, diz que ela sempre soube que a educação é importante. Apesar de ter desistido da escola mais cedo do que queria, na oitava classe, planeja regressar aos estudos com o marido.
È assim que a África está tentando resolver seus principais problemas sociais. Usa o teatro como instrumento de transformação social. Ao longo do país, grupos de Teatro do Oprimido envolvem centenas de adolescentes e jovens dedicados. O Grupo de Teatro do Oprimido de Maputo é uma associação cultural que movimenta mais de 3.000 atores e com atividade em áreas de desenvolvimento comunitário. O GTO trabalha com variados temas, desde HIV/SIDA, Drogas, Meio ambiente, Direitos Humanos, Criança, Cidadania, Democracia, corrupção dentre outros.
É triste olhar para o Brasil à partir do Continente Africano e constatar que a absoluta maioria dos municípios brasileiros sequer conta com um grupo de teatro e que, a técnica do Teatro do Oprimido, foi criada por um brasileiro. Na verdade, Augusto Boal só é pouco conhecido e praticado no Brasil.E no Brasil dia 20 de novembro é feriado.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Sem Chance
Pelo segundo ano consecutivo a Funarte escolheu Ribeirão Preto para sediar o Encontro Nacional de Coros Cênicos.
Durante toda a semana passada, o Espaço Cultural SantelisaVale recebeu grupos que vieram de várias partes do País.
Um verdadeiro festival de técnica apurada, criatividade e multiplicidade cultural.
Apesar da diversidade, os grupos tinham algo em comum: Todos cantaram a Paz.
O encontro terminou domingo e na segunda ligo o rádio, a televisão, compro jornais. Homicídios, furtos, pedofilia, drogas, estupro, violência. Nos canais a cabo as raves e o colunismo mundano.
Nenhuma linha, nenhuma matéria, nenhuma entrevista, nenhuma nota sobre o II Encontro Nacional de Coros Cênicos.
Nenhuma chance para a Paz.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Filhos? Melhor não tê-los
Ontem o jornalista Ozéias Tolentino chegou ao happy-hour do Jockey desolado.
Passou o final de semana procurando entender por que seus dois filhos vivem tão alienados. Vão as aulas na universidade, sim. Mas, ocos. Não lêem nada, nunca foram a um concerto sinfônico, ignoram cinema, teatro ou qualquer outra atividade que fale diretamente aos ideais superiores, à reflexão como exercício de sabedoria.
-Não consigo entender, só vivem nas raves, em churrascos ou nas centenas de botecos espalhados pela cidade. Quando em casa, estão no MSM, Orkut...
Julinho Trentini que perde o amigo, mas, não perde a mania de provocar, meteu a colher:
- Ozéas, você se lembra de quantas vezes na vida você levou seus filhos ao teatro? A concertos sinfônicos? Quantas histórias você leu a eles quando ainda crianças? Quantas vezes você deixou de ir a um churrasco para acompanhá-los a uma feira de livros, por exemplo?
Com os olhos marejados nosso afável confrade cearense não se fez ofendido:
- É verdade. Tens razão. E justo eu que passei a vida escrevendo sobre isso. Alertando sobre isso. Cai na armadilha: façam o que eu falo... Deleguei aos professores.
Do outro lado da mesa, querendo tirar da seringa, o professor Marino Maradei sentenciou:
- É como age a maioria dos pais. Nós professores temos boas intenções, mas...
Julinho golpeou rápido. No fígado:
-Ora, Marino... De boas intenções o inferno está cheio. Professor, hoje, ou vive de licença, ou está preocupado em dar sua aulinha medíocre e sair logo para a mesma festa dos alunos... Me diga uma coisa: Há quanto tempo você dá aulas?
-Vinte e seis anos...
-Nestes 26 anos, quantas vezes você recomendou a seus alunos uma peça de teatro que tenha assistido. Quantas foi ao teatro? Quantas vezes os organizou em grupos para acompanhá-los a um concerto, a uma feira de livros, a uma exposição, a um espetáculo de dança?
O longo silêncio que se seguiu só foi cortado pela voz torniturante do poeta Bosco Martins:
-Filhos? Melhor não tê-los...
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Atores pelados
Continua repercutindo a declaração do Pedro Cardoso sobre a nudez no cinema e teatro. O confrade Agamenon Mendes Pedreira entra na polêmica e escreve:
O maldito Acelerador de Partículas da Suiça, continua causando estragos à Humanidade. Primeiro foi a crise financeira mundial e agora surge uma nova onda, o neocaretismo não liberal, que está tomando conta do Brasil. Num manifesto estético de fundo moralista, o ator Pedro Cardoso protestou contra a nudez e a pornografia no cinema e teatro. Ora,bolas (as duas)!), eu não posso concordar com a opinião do meu amigo Pedro Cardoso. Eu só vou ao cinema e ao teatro pra ver mulher nua. Se não tiver mulher nua, um caco de peito ou uma lapa de bunda , qual é a graça?Na verdade, Prego Cardoso é mordido de cobra com essa questão de aparecer nu em cena. Nos anos 80, enquanto participava de uma reprodução brasileira, Pedro teve que ser substituído por um dublê numa cena de sexo. O dublê era um jumento. Segundo o diretor do filme, Anibal Massaini, o troca-troca se deu porque o talentoso comediante não tinha massa de vídeo. É por isso que ele é o famoso Agostinho ( e não o Agostão) da “Grande manilha”, quer dizer, “família”.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Julinho e os artistas
O enfant terrible Julinho Trentini resolveu aporrinhar um grupo de atores e atrizes reunidas em torno de uma cerveja no Bar do Jockey ontem.
Primeiro fez ao grupo a pergunta que sempre fazemos àqueles que se interessam pelo fazer teatral, ou seja, por que você faz teatro?
Como sempre a resposta foi unânime: Amamos o teatro!!!
Julinho que perde o amigo, mas não perde a mania de provocar, propôs então uma sabatina no estilo CQTESTE aceita por todos.
Pergunta número 1: Quem é o Chaves?
Essa foi fácil. Todos responderam corretamente:
-É o personagem principal do seriado exibido há séculos pelo SBT.
Pergunta número 2: Quem é Zidani ?
Fácil também. Todos acertaram.
-Zinédine Yazid Zidane é um ex-futebolista francês. Jogou pelo Real Madrid, Juventus, Bordeaux, Seleção da França. Enquanto atuou, Zidane foi considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos.
-Vocês estão indo muito bem!Pergunta número 3:
-O que aconteceu com a Argentina na Copa da Alemanha em 2006?
-A seleção da Argentina foi eliminada nas quartas-de-final pela Alemanha nos pênaltis. A Argentina começou bem no Grupo da Morte, o grupo mais díficil da Copa da Alemanha de 2006. Os argentinos estrearam com uma vitória por 2 a 1 sobre a Costa do Marfim. No segundo jogo golearam a seleção da Sérvia e Montenegro por 6 a 0 e terminaram a primeira fase com um empate sem gols com a Holanda. Nas oitavas-de-final a Argentina superou o México por 2 a 1, com um gol na prorrogação. Nas quartas-de-final os argentinos não resistiram a pressão da torcida anfitriã.
-Bravo!Pergunta número 4: Maradona?
-Tá de brincadeira, Julinho? Maradona foi um dos maiores jogadores de futebol da Argentina e do Mundo. Foi até comparado ao Pelé. Faz pergunta mais difícil... Porra.
-Tá bem. Vocês fazem teatro, não futebol... Então respondam: Que autor criou os personagens Regan, Cordélia e Goneril. Em qual peça da dramaturgia universal elas estão inseridas?
Diante do silêncio, Julinho emendou a segunda da série:
-Como se denominam os filhos de Édipo na tragédia escrita por Sófocles? Além de Édipo, Sófocles escreveu mais alguma “pecinha”?
-Garçom, a conta! Tá tarde gente... Tchau, Julinho... Amanhã tem Formula 1...
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