quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Não estás deprimido, estás distraído


Diante da desilusão que me pegou nesta semana, o amigo Zé Mauricio Cagno envia um texto de Facundo Cabral. No mínimo, tocante.
Facundo Cabral é um cantor Argentino (a cara do Magno Bucci), nascido em 22 de maio de 1937 na cidade de Balcarce, província de Buenos Aires, Argentina. Em tenra idade seu pai deixou a casa deixando a mãe com três filhos, que emigraram para Tierra del Fuego no sul da Argentina.
Cabral teve uma infância dura e desprotegida, tornando-se um marginal, a ponto de ser internado em um reformatório. Em pouco tempo conseguiu escapar e, segundo conta, encontrou Deus nas palavras de Simeão, um velho vagabundo
Em 1970, ele gravou "No Soy De Aquí, Ni Soy De Allá" e seu nome fica conhecido em todo o mundo, gravando em nove idiomas e com cantores da estatura de Julio Iglesias, Pedro Vargas e Neil Diamond, entre outros.
Influenciado, no lado espiritual, por Jesus, Gandhi e Madre Teresa de Calcutá, na literatura por Borges e Walt Whitman, sua vida toma um rumo espiritual de observação constante em tudo o que acontece em seu redor, não se conformando o que vê, durante sua carreira como um cantor de Música Popular e, toma o caminho da crítica social, sem abandonar o seu habitual senso de humor.
Como um autor literário, foi convidado para a Feira Internacional do Livro, em Miami, onde conversou sobre seus livros, entre eles: “Conversaciones con Facundo Cabral”, “Mi Abuela y yo”, “Salmos”, “Borges y yo”, “Ayer soñé que podía y hoy puedo”, y el “Cuaderno de Facundo”.
Em reconhecimento do seu constante apelo à paz e amor, em 1996, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) o declarou "Mensageiro mundial da Paz”.
Vamos ao texto:


Não estás deprimido, estás distraído

Não estás deprimido, estás distraído.
Distraído em relação à vida que te preenche, distraído em relação à vida que te rodeia, golfinhos, bosques, mares, montanhas, rios.
Não caias como caiu teu irmão que sofre por um único ser humano, quando existem cinco mil e seiscentos milhões no mundo. Além de tudo, não é assim tão ruim viver só. Eu fico bem, decidindo a cada instante o que desejo fazer, e graças à solidão conheço-me. O que é fundamental para viver.
Não faças o que fez teu pai, que se sente velho porque tem setenta anos, e esquece que Moisés comandou o Êxodo aos oitenta e Rubinstein interpretava Chopin com uma maestria sem igual aos noventa, para citar apenas dois casos conhecidos.

Não estás deprimido, estás distraído.
Por isso acreditas que perdeste algo, o que é impossível, porque tudo te foi dado. Não fizeste um só cabelo de tua cabeça, portanto não és dono de coisa alguma. Além disso, a vida não te tira coisas: te liberta de coisas, alivia-te para que possas voar mais alto, para que alcances a plenitude.
Do útero ao túmulo, vivemos numa escola; por isso, o que chamas de problemas são apenas lições. Não perdeste coisa alguma: aquele que morre apenas está adiantado em relação a nós, porque todos vamos na mesma direção.
E não esqueças, que o melhor dele, o amor, continua vivo em teu coração.
Não existe a morte, apenas a mudança.
E do outro lado te esperam pessoas maravilhosas: Gandhi, o Arcanjo Miguel, Whitman, São Agostinho, Madre Teresa, teu avô e minha mãe, que acreditava que a pobreza está mais próxima do amor, porque o dinheiro nos distrai com coisas demais, e nos machuca, porque nos torna desconfiados.
Faz apenas o que amas e serás feliz. Aquele que faz o que ama, está benditamente condenado ao sucesso, que chegará quando for a hora, porque o que deve ser será, e chegará de forma natural.
Não faças coisa alguma por obrigação ou por compromisso, apenas por amor.
Então terás plenitude, e nessa plenitude tudo é possível sem esforço, porque és movido pela força natural da vida. A mesma que me ergueu quando caiu o avião que levava minha mulher e minha filha;
a mesma que me manteve vivo quando os médicos me deram três ou quatro meses de vida.
Deus te tornou responsável por um ser humano, que és tu. Deves trazer felicidade e liberdade para ti mesmo.
E só então poderás compartilhar a vida verdadeira com todos os outros.
Lembra-te: "Amarás ao próximo como a ti mesmo".
Reconcilia-te contigo, coloca-te frente ao espelho e pensa que esta criatura que vês, é uma obra de Deus, e decide neste exato momento ser feliz, porque a felicidade é uma aquisição.
Aliás, a felicidade não é um direito, mas um dever; porque se não fores feliz, estarás levando amargura para todos os teus vizinhos.
Um único homem que não possuiu talento ou valor para viver, mandou matar seis milhões de judeus, seus irmãos.
Existem tantas coisas para experimentar, e a nossa passagem pela terra é tão curta, que sofrer é uma perda de tempo.
Podemos experimentar a neve no inverno e as flores na primavera, o chocolate de Perusa, a baguette francesa, os tacos mexicanos, o vinho chileno, os mares e os rios, o futebol dos brasileiros, As Mil e Uma Noites, a Divina Comédia, Quixote, Pedro Páramo, os boleros de Manzanero e as poesias de Whitman; a música de Mahler, Mozart, Chopin, Beethoven; as pinturas de Caravaggio, Rembrandt, Velázquez, Picasso e Tamayo, entre tantas maravilhas.
E se estás com câncer ou AIDS, podem acontecer duas coisas, e ambas são positivas:
se a doença ganha, te liberta do corpo que é cheio de processos (tenho fome, tenho frio, tenho sono, tenho vontades, tenho razão, tenho dúvidas)
Se tu vences, serás mais humilde, mais agradecido... portanto, facilmente feliz, livre do enorme peso da culpa, da responsabilidade e da vaidade,
disposto a viver cada instante profundamente, como deve ser.

Não estás deprimido, estás desocupado.
Ajuda a criança que precisa de ti, essa criança que será sócia do teu filho. Ajuda os velhos e os jovens te ajudarão quando for tua vez.
Aliás, o serviço prestado é uma forma segura de ser feliz, como é gostar da natureza e cuidar dela para aqueles que virão.
Dá sem medida, e receberás sem medida.
Ama até que te tornes o ser amado; mais ainda converte-te no próprio Amor.
E não te deixes enganar por alguns homicidas e suicidas.
O bem é maioria, mas não se percebe porque é silencioso.
Uma bomba faz mais barulho que uma caricia, porém, para cada bomba que destrói há milhões de carícias que alimentam a vida.
Facundo Cabral

sábado, 1 de agosto de 2009

Verbas da Eletrobrás foram para contas de empresas dos Sarney



Autor(es): Bernardo Mello Franco
O Globo - 30/07/2009

Documentos inéditos em análise no Ministério da Cultura (MinC) apontam novas irregularidades e indícios de fraude em contas do Instituto Mirante, ONG presidida por Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e alvo de investigações da Polícia Federal.

A entidade informou ter recebido R$ 220 mil da Eletrobrás para financiar projetos culturais no Maranhão, com base na Lei Rouanet. No entanto, auditores do MinC descobriram que parte dos gastos declarados não confere com os extratos bancários do instituto. Além disso, pelo menos R$ 116 mil — o equivalente a 52% do dinheiro captado — foram parar em contas de empresas ligadas à família Sarney.

O processo do Instituto Mirante se arrasta desde 2005, quando a ONG foi autorizada a captar R$ 4,32 milhões em dinheiro de renúncia fiscal.

Desde então, a entidade informou ter recebido R$ 220 mil da Eletrobrás — valor que tentou alterar posteriormente, sem convencer os auditores. Por causa dos problemas, a ONG chegou a ser declarada inadimplente seis vezes, como registra o sistema de acompanhamento dos processos do MinC.

Cansada de cobrar explicações, a coordenadora-geral de Avaliação e Prestação de Contas do MinC, Maria da Glória Rocha, ameaçou pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU) a abertura de uma tomada de contas especial. O ultimato foi dado em 24 de março deste ano, em ofício enviado a Fernando Sarney. Depois disso, o Instituto Mirante apresentou novas justificativas, ainda não analisadas.

Listadas diversas irregularidades

As principais irregularidades estão listadas no “Relatório de análise financeira da prestação de contas final”, emitido em outubro de 2008 e enviado aos dirigentes da ONG. Segundo o documento, os valores apresentados pelo Instituto Mirante não conferem com os extratos bancários, e não foram apresentadas provas da movimentação bancária. Além disso, houve pagamentos indevidos a título de elaboração e agenciamento de projetos, entre outros problemas.

Segundo os papéis do instituto, o dinheiro foi captado junto à Eletrobrás, entre maio e dezembro de 2006. No período, a estatal era subordinada ao então ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, que foi indicado por Sarney e está sob investigação da Polícia Federal.

Em maio, Fernando Sarney informou ter recebido R$ 70 mil para organizar o “Baile do Fofão”, apresentado ao MinC como uma festa de carnaval.

Posteriormente, ele alegou que o evento teria sido financiado com recursos próprios, mas os extratos bancários comprovam o depósito da Eletrobrás. Em dezembro, Fernando disse ter captado mais R$ 150 mil para o “Brilha São Luís”, que previa a organização de corais natalinos, a iluminação da Torre de São Francisco e a decoração natalina da cidade. Segundo admitiu o próprio Mirante, só o primeiro item saiu do papel.

Ao conferir as notas fiscais do processo, O GLOBO constatou que o instituto usou empresas ligadas à família Sarney para justificar o uso de mais da metade dos recursos. Só a TV Mirante emitiu recibos no valor de R$ 67 mil, a título de venda de publicidade para os dois projetos. A Rádio Mirante teria recebido R$ 7,2 mil, e a Gráfica Escolar, R$ 6 mil. A lista de notas inclui até a Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês (Abom), uma das ONGs da família suspeitas de desviar recursos públicos. A Abom emitiu duas notas no valor total de R$ 9 mil.

O processo também revela a existência de mais uma suposta empresa fantasma ligada à família Sarney: o Centro Brasileiro de Produção Cultural (CBPC), que emitiu notas fiscais no valor de R$ 27 mil para o Instituto Mirante. O endereço declarado pelo CBPC à Receita Federal é o mesmo em que funcionam, em São Luís, a TV Mirante, o jornal “O Estado do Maranhão” e o próprio instituto que captou o dinheiro. Nas notas fiscais, aparece outro endereço suspeito, visitado ontem pelo GLOBO. Lá funciona, desde 2006, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Maranhão.

Outro indício de fraude é um recibo assinado por Fábio Henrique Gomes Aguiar, que se apresenta como responsável pelo CBPC. Fernando Sarney enviou um ofício ao MinC nomeando Fábio como representante do Instituto Mirante junto ao ministério. Fábio é apresentado como roteirista do filme “O Dono do Mar”, baseado num livro de Sarney. Ele não foi encontrado ontem nos endereços e telefones informados ao MinC. A cópia de um dos cheques enviados ao ministério, no valor de R$ 7 mil, traz no canhoto a seguinte inscrição: “Fabão comissão”.

Ontem, Diogo Adriano, ex-secretárioexecutivo do Instituto Mirante, disse que o CBPC nunca funcionou no endereço declarado à Receita. Inicialmente, ele afirmou não conhecer a empresa. Quando soube que os recibos eram assinados por Fábio, confirmou o vínculo, mas não soube explicar os serviços prestados pelo suposto assessor de Fernando.

— Se eu não me engano, ele colaborou em alguns projetos, mas não sei dizer quais. Mas, com certeza, a empresa dele nunca funcionou no endereço do Mirante — disse.

Sobre o fato de a maior parte do dinheiro ter parado em contas de empresas da família, foi lacônico: — São os veículos líderes daqui.

A questão ética eu apresentei ao ministério, mas eles disseram que não havia problema algum.

O advogado Eduardo Ferrão, que defende Fernando Sarney, disse não conhecer os documentos do MinC.

sábado, 25 de julho de 2009

Hoje umas palavras de William Shakespeare



Eu aprendi
que a melhor sala de aula do mundo está
aos pés de uma pessoa mais velha;

[só o partilhar das experiências de quem já se encarregou de as arrancar dos dias, nos permite construir uma sabedoria útil]

Eu aprendi
que ter uma criança adormecida nos braços é um dos momentos mais pacíficos do mundo;

[não há nada mais apaziguador do que sustentar nos braços a respiração tranquila do sono de uma criança]

Eu aprendi
que ser gentil é mais importante do que estar certo;

[o tratamento cordial que prestamos às pessoas com quem nos relacionamos fomenta uma convivência salutar]

Eu aprendi
que nunca se deve negar um presente a uma criança;

[certamente que uma das piores coisas é desfazer as ilusões que povoam a inocência de uma criança, portanto, porquê acabar com essa magia?]

Eu aprendi
que eu sempre posso fazer uma prece por alguém
quando não tenho a força para ajudá-lo de alguma outra forma;

[quando desejamos para alguém algo com muita intensidade (como o único modo que nos resta para ajudar), a força do nosso desejo contribui para a sua concretização]

Eu aprendi
que não importa quanta seriedade a vida exija de você,
cada um de nós precisa de um amigo brincalhão para se divertir junto;

[sem dúvida que sem um (no mínimo!) amigo brincalhão por perto seria impossível aguentar a seriedade que a vida nos impõe]

Eu aprendi
que algumas vezes tudo o que precisamos é de uma mão para segurar
e um coração para nos entender;

[é na segurança de uma mão que se estende a compreensão, a paciência e a presença e é num coração puro que se oferece o melhor da vida]

Eu aprendi
que os passeios simples com meu pai em volta do quarteirão nas noites de verão quando eu era criança fizeram maravilhas para mim quando me tornei adulto;

[as vivências que os nossos pais nos proporcionam são manuais importantes para regermos a nossa vida quando ela ganha proporções de responsabilidade]

Eu aprendi
que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos;

[é com aquilo que Deus nos nega que aprendemos a contornar as dificuldades e a descobrir as alternativas]

Eu aprendi
que dinheiro não compra "classe";

[o dinheiro deve ser colocado ao serviço das nossas necessidades e ter sempre presente que o que verdadeiramente importa não tem um preço venal, conquista-se]

Eu aprendi
que são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espectacular;

[este é um dos segredos para não deixarmos que os dias passem por nós de uma forma leviana e fugidia, temos que prestar atenção ao dia de hoje, para que possamos guardar o ontem e desenhar um amanhã mais risonho]

Eu aprendi
que debaixo da "casca grossa" existe uma pessoa que deseja ser apreciada, compreendida e amada;

[todos nós temos as nossas fragilidades, os nossos momentos de desânimo e exaustão, e basta apenas a disponibilidade de uns ouvidos para escutar e pureza de um coração para interpretar como deve ser]

Eu aprendi
que Deus não fez tudo num só dia; o que me faz pensar que eu possa?

[não se faz tudo num dia, mas devemos fazer o máximo que estiver ao nosso alcance em cada dia]

Eu aprendi
que ignorar os factos não os altera;

[por mais custoso que seja o acto de encarar de frente os factos que preferiríamos não ver, eles não desaparecem por fecharmos os olhos]

Eu aprendi
que quando você planeja se nivelar com alguém, apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você;

[não conseguimos evitar que nos magoem, porém está nas nossas mãos limitar o tempo e as condições em que nos continuam a magoar]

Eu aprendi
que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;

[se bem que o tempo cura as feridas de um amor]

Eu aprendi
que a maneira mais fácil para eu crescer como pessoa é cercar-me de gente mais inteligente do que eu;

[o outro é sempre mais inteligente do que nós num qualquer aspecto, embora a maioria das vezes nos esqueçamos que, de facto, temos sempre muito a aprender com qualquer pessoa]

Eu aprendi
que cada pessoa que a gente conhece deve ser saudada com um sorriso;

[haverá melhor forma de brindar um desconhecido?]

Eu aprendi
que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;

[ainda que digam que o amor nos deixa “cegos”, não é menos verdade que o seu poder transformador é o único caminho para procurar a perfeição possível]

Eu aprendi
que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;

[não deixa de ser complicado quando as circunstâncias da vida são demasiado duras e a nossa força começa a desfalecer; eis que surge a necessidade de ressurgir com a força de um gigante que evite que desistamos da essência dos nossos sonhos]

Eu aprendi
que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.

[há um reaproveitamento constante das escolhas que fazemos, é como uma encruzilhada, na qual estamos todos ligados: as escolhas de que eu abdiquei corresponderão às primeiras opções de outra pessoa]

Eu aprendi
que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar;

[costumo defender que os portos seguros demoram muito tempo a descobrir-se e que a felicidade não pára sempre nem por muito tempo no mesmo lugar]

Eu aprendi
que devemos sempre ter palavras doces e gentis pois amanhã talvez tenhamos que engoli-las;

[guardemos as palavras doces e gentis para quando elas nasçam da alma e possam ser devidamente entendidas e valorizadas]

Eu aprendi
que um sorriso é a maneira mais barata de melhorar sua aparência;

[qualquer um se pode submeter (sem prejuízo do seu livre-arbítrio) à doce ditadura do sorriso]

Eu aprendi
que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito;

[podemos sempre admitir, contrariar ou ignorar o que sentimos, mas jamais podemos evitar que isso tenha influências em nós]

Eu aprendi
que todos querem viver no topo da montanha, mas
toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a;

[o gozo de chegar às metas não existe na dimensão do pico atingido; se não formos retirando dos obstáculos, que vamos ultrapassando, a força da persistência e o orgulho de lhes sobreviver]

Eu aprendi
que só se deve dar conselho em duas ocasiões: quando é pedido ou quando é caso de vida ou morte;

[eu defendo mais a ideia pessoana de que dar um conselho é não respeitar a faculdade de o outro errar e aprender a seguir]

Eu aprendi
Que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.

[quanto menor é o tempo disponível, mais as nossas capacidades de gestão de tempo, tarefas e afectos são exploradas e, consequentemente, enriquecidas]

William Shakespeare

Eu aprendi com estas palavras que, às vezes, é à mesa de um café, num momento impreciso de uma noite fresca de Verão, que alguém, de uma forma simples e intuitiva (mas certeira!), nos recorda algumas evidências e nos atinge no ponto necessário

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O mendigo ou o cão morto


Em “A História da Tigresa” o dramaturgo italiano e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1997, Dario Fo conta um soldado ferido na guerra e que abandonado pelos colegas no meio da floresta, é salvo por um tigre com quem passa a ter uma relação familiar.A convivência com o tigre o faz enxergar a alma humana, reconhecendo fraquezas nas relações de poder. Ao se recuperar dos ferimentos, ele retorna ao campo de batalha, desta vez com seus princípios renovados e a prepotência de um governo totalitarista que se configura como inimigo do próprio povo, alienando-o para lutar uma guerra em defesa de uma ideologia burguesa e mesquinha.

Bertolt Brecht, o maior dramaturgo alemão de todos os tempos,em “O Mendigo ou o Cão Morto”, conta um típico imperador que coloca em exercício toda a soberba, mediocridade e prepotência que emerge do ego imperial de alguém que pensa ter “vencido” um inimigo, execrando como um nada um mendigo que encontra a porta do seu palácio no momento em que comemora a sua “vitória”. Cabe então ao mendigo, acompanhado de seu cachorro morto, mostrar a este homem o quão medíocre ele é, desarmando-o com palavras e fazendo-o sucumbir pela própria soberba. Numa relação de amor e humildade, ele mostra a relação de interdependência que vivemos, podendo ter mais valia para um súdito, um cão morto de que seu imperador, vindo da guerra, traz consigo a vitória.
Lembrei-me destes dois textos ao ler hoje o noticiário nacional. Posso garantir que Brecht e Fo escreveram durante o século passado. Qualquer semelhança com histórias destes tempos presentes ou semelhança com presidentes da república ou senado seria apenas um exercício de uma visão repugnante que tiveram do futuro.
agilsonfilho@gmail.com

terça-feira, 7 de julho de 2009

Rúbia, ficção ou realidade?



Rúbia tem vinte e poucos anos. Trabalha comigo há cinco. É ruiva natural. Olhos claríssimos. Ficam entre o verde e o azul. É levemente tímida. Uma timidez zen. Uma menina como outra qualquer, mas que difere em muito daqueles de sua geração. Rúbia é culta de maneira natural. Tão natural quanto à cor de seus cabelos. Quando não está nas filas dos bancos, no serviço geral ou fazendo aulas de teatro, lê Dostoiévsky, Gorki, Tchékhov,Machado, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa com a facilidade de um velho intelectual.
Fala pouco de si mas, fala muito quanto o assunto trata de seus ídolos ou daqueles que atualmente despreza com todas suas forças.
A quem despreza? A classe política.
Esse desprezo está causando dor e problemas a minha “secretária”, digamos assim.
É que mês passado Rúbia foi premiada num concurso literário oferecido pelo governo do Maranhão. O prêmio de R$ 5 mil incluía passagens áreas até São Luiz e estadia por uma semana em hotel de luxo.
Lá se foi Rúbia com seus cabelos ruivos naturais, olhos claríssimos que ficam entre o verde e azul e a timidez zen.
Durante uma semana participou de workshops literários, foi ao teatro, ao cinema, a bibliotecas... Fez amizade com outras jovens também premiadas em outros Estados.
No penúltimo dia resolveu por conta própria dar umas bandas por aí. Inadivertidamente foi parar num bairro conhecido por Liberdade.
Em Liberdade viu a miséria de perto. Não essa miséria que estamos habituados ver em ruas ou favelas de São Paulo, Rio...
Conta que viu a miséria extrema. Viu de perto à família lumpem, que só conhecia dos livros de Dostoiévsky,Gorky, Tchékov...
Conta que a ela foi oferecida uma garotinha de 12 anos por R$50, garota que poderia lhe servir como doméstica, ou seja, escrava pelo resto da vida em São Paulo ou para onde a “compradora” a levasse.
Ao último dia estava reservada uma cerimônia na Academia Maranhense de Letras. Rúbia pediu a palavra. Deram palavra a uma menina ruiva tingida de revolta, olhos injetados e sem timidez alguma.
Durante quinze minutos a paulista de Ribeirão Preto contou a experiência vivida em Liberdade. Falou sobre luta de classes, da fome, de revolta, da podridão destinada aos estratos inferiores da sociedade. Contrapôs Liberdade com a Ilha de Curupu, reserva ambiental que pertence a “famíglia” Sarney.
De volta ao hotel encontrou sua mala já no saguão. Informaram que sua estadia estava vencida. No aeroporto ficou sabendo que a passagem de volta fora cancelada.
Na rodoviária tomou um ônibus com o pouco que tinha na bolsa. Chegou ontem a Ribeirão Preto depois de cinco dias de viagem.
Hoje pela manhã Rúbia apareceu para trabalhar. Vestia camiseta preta com retrato de Che Guevara e onde se podia ler : Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.
Ah, no caminho de volta, Rúbia leu num restaurante de beira de estrada que Lula estava defendendo Sarney. Foi por isso que pintou “PT Nunca Mais” bem abaixo da frase do Che estampada na camiseta.
agilsonfilho@gmail.com blogdogilsonfilho.blogspot.com

quarta-feira, 10 de junho de 2009

LULA, A NOSSA MARIA ANTONIETA


- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, em entrevista exclusiva à agência de informações Reuters, que o Brasil fará um empréstimo de US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI).


- Ontem o Fernando Kachassa me presenteou com uma cópia de "Garapa" o mais recente filme de José Padilha. É impressionante. O Filme mostra três famílias que sofrem com a fome. Das famílias que Padilha filmou, apenas duas recebem dinheiro do Bolsa Familia, enquanto a terceira não tem documentos para se registrar. Uma família tem duas filhas e está na região urbana de Fortaleza; outra tem 12 filhos e mora perto de uma cidade da zona rural do Estado, e a última tem três filhos e vive no "meio do nada", no interior.
Citando uma pesquisa sobre segurança alimentar feita pelo Ibase, Padilha disse que 11,5 milhões vivem a mesma situação das famílias de seu filme. Esse tipo de pesquisa, porém, não é capaz de “comprovar” se a fome existe de fato na população pesquisada, porque tudo se baseia em autodeclaração. Há uma ou duas perguntas objetivas, mas, na maior parte, elas medem mais expectativas, temores, frustrações. Um exemplo: “Nos últimos três meses, os moradores deste domicílio tiveram a preocupação de que os alimentos acabassem antes de poderem comprar ou receber mais comida?” Com perguntas assim, a pesquisa concluiu que 21% dos beneficiários (11,5 milhões) têm insegurança alimentar grave (fome), 34%, moderada (restrição na quantidade de alimentos) e 28%, leve (não há falta de alimentos, mas o temor de que venham a faltar).

Pois então, que comam brioches. Viva Lula.Viva o FMI. Viva a nossa Maria Antonieta

terça-feira, 9 de junho de 2009

A Insensatez


Meus caros amigos:


Queria repassar este artigo tirado da coluna da Míriam Leitão (por sinal, uma mulher quase sempre do lado do desenvolvimento e não da conservação). Acho que permitir que esta MP sobreviva será um desastre nacional que vai na direção de muitos outros desastres regionais e locais. Vários destes desastres ambientais, na verdade estão nas mãos de gente como nós. Vão acontecer nos quintais de outras APAS, parques, ou áreas de proteção permanentes, que vão sucumbir não à ambição das grandes empresas, mas à ambição mesquinha e omissa de cada morador, político e comerciante. É a população que precisa mudar, se horrorizar e cobrar mudanças. Não temos mais tempo, em breve não teremos mais solos para plantar, não teremos montanhas para levar turistas, florestas para tirar fármacos e alimentos, para reverter o aquecimento global, não teremos água potável, e o minério que enriquece o momento, vai acabar e não deixará a riqueza para cobrir as despesas do desastre. Estamos dando algo que não tem preço por royalties insignificantes e empregos que somem na primeira crise mundial. Vamos pensar nisto? (Laudi)



A INSENSATEZ

Coluna de Miriam Leitão, O Globo, Sexta 5/jun

O confronto entre ruralistas e ambientalistas é completamente insensato. Mesmo se a questão for analisada apenas do ponto de vista da economia, são os ambientalistas quem têm razão. Os ruralistas comemoram vitórias que se voltarão contra eles no futuro. Os frigoríficos terão que provar aos supermercados do Brasil que não compram gado de áreas de desmatamento.

O mundo está caminhando num sentido, e o Brasil vai em direção oposta. Em acelerada marcha para o passado.

O debate, as propostas no Congresso, a aprovação da MP 458, os erros do governo, a cumplicidade da oposição, tudo isso mostra que a falta de compreensão é generalizada no país.

A fritura pública do ministro Carlos Minc, da qual participou com gosto até o senador oposicionista Tasso Jereissati (PSDB-CE), é um detalhe. O trágico é a ação pluripartidária para queimar a Amazônia.

Até a China começa a mudar. Nos Estados Unidos, o governo George Bush foi para o lixo da história. O presidente Barack Obama começa a dirigir o país em outro rumo. Está tramitando no Congresso americano um conjunto de parâmetros federais para a redução das emissões de gases de efeito estufa. O que antes era apenas um sonho da Califórnia, agora será de todo o país.

Neste momento em que a ficha começa a cair no mundo, no Brasil ainda se pensa que é possível pôr abaixo a maior floresta tropical do planeta, como se ela fosse um estorvo.

A MP 458, agora dependendo apenas de sanção presidencial, é pior do que parece. É péssima. Ela legaliza, sim, quem grilou e dá até prazo. Quem ocupou 1.500 hectares antes de primeiro de dezembro de 2004 poderá comprá-la sem licitação e sem vistoria. Tem preferência sobre a terra e poderá pagar da forma mais camarada possível: em 30 anos e com três de carência. E, se ao final da carência quiser vender a terra, a MP permite. Em três anos, o imóvel pode ser passado adiante. Para os pequenos, de até quatrocentos hectares, o prazo é maior: de dez anos. E se o grileiro tomou a terra e deixou lá trabalhadores porque vive em outro lugar? Também tem direito a ficar com ela, porque mesmo que a terra esteja ocupada por "preposto" ela pode ser adquirida. E se for empresa? Também tem direito.

Os defensores da MP na Câmara e no Senado dizem que era para regularizar a situação de quem foi levado para lá pelo governo militar e, depois, abandonado.

Conversa fiada. Se fosse, o prazo não seria primeiro de dezembro de 2004.

Disseram que era para beneficiar os pequenos posseiros. Conversa fiada. Se fosse, não se permitiria a venda ocupada por um preposto, nem a venda para pessoa jurídica.

A lei abre brechas indecorosas para que o patrimônio de todos os brasileiros seja privatizado da pior forma. E a coalizão que se for$a favor dos grileiros é ampla. Inclui o PSDB. O DEM nem se fala porque comandou a votação no Senado, através da relatoria da líder dos ruralistas, Kátia Abreu.

Mais uma vez, Pedro Simon (PMDB-RS), quase solitário, estava na direção certa.

A ex-ministra Marina Silva diz que o dia da aprovação da MP 458 foi o terceiro pior dia da vida dela.

"O primeiro foi quando perdi meu pai, o segundo, quando Chico Mendes morreu" desabafou.

Ela sente como se tivesse perdido todos os avanços dos últimos anos.

Minha discordância com a senadora é que eu não acredito nos avanços. Acho que o governo Lula sempre foi ambíguo em relação ao meio ambiente, e o governo Fernando Henrique foi omisso. Se tivessem tido postura, o Brasil não teria perdido o que perdeu.

Só nos dois primeiros anos do governo Lula, 2003 e 2004, o desmatamento alcançou 51 mil Km. Muitos que estavam nesse ataque recente à Floresta serão agora "regularizados".

O Greenpeace divulgou esta semana um relatório devastador. Mostrando que 80% do desmatamento da Amazônia se deve à pecuária. A ONG deu nome aos bois: Bertin, Marfrig, JBS Friboi são os maiores. O BNDES é sócio deles e os financia. Eles fornecem carne para inúmeras empresas, entre elas, as grandes redes de supermercados: Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar.

Reuni ontem no programa Espaço Aberto, da Globonews, o coordenador do estudo, André Muggiatti e o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Sussumu Honda. O BNDES não quis ir.

A boa notícia foi a atitude dos supermercados. Segundo Sussumu Honda, eles estão preocupados e vão usar seu poder de pressão contra os frigoríficos, para que eles mostrem, através de rastreamento, a origem do gado cuja carne é posta em suas prateleiras.

Os exportadores de carne ameaçam processar o Greenpeace. Deveriam fazer o oposto e recusar todo o fornecedor ligado ao desmatamento. O mundo não comprará a carne brasileira a esse preço. Os exportadores enfrentarão barreiras. Isso é certo.

O Brasil é tão insensato que até da anêmica Mata Atlântica tirou 100 mil hectares em três anos.

Nossa marcha rumo ao passado nos tirará mercado externo. Mas isso é o de menos. O trágico é perdermos o futuro. Símbolo irônico das nossas escolhas é aprovar a MP 458 na semana do Meio Ambiente