terça-feira, 7 de julho de 2009

Rúbia, ficção ou realidade?



Rúbia tem vinte e poucos anos. Trabalha comigo há cinco. É ruiva natural. Olhos claríssimos. Ficam entre o verde e o azul. É levemente tímida. Uma timidez zen. Uma menina como outra qualquer, mas que difere em muito daqueles de sua geração. Rúbia é culta de maneira natural. Tão natural quanto à cor de seus cabelos. Quando não está nas filas dos bancos, no serviço geral ou fazendo aulas de teatro, lê Dostoiévsky, Gorki, Tchékhov,Machado, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa com a facilidade de um velho intelectual.
Fala pouco de si mas, fala muito quanto o assunto trata de seus ídolos ou daqueles que atualmente despreza com todas suas forças.
A quem despreza? A classe política.
Esse desprezo está causando dor e problemas a minha “secretária”, digamos assim.
É que mês passado Rúbia foi premiada num concurso literário oferecido pelo governo do Maranhão. O prêmio de R$ 5 mil incluía passagens áreas até São Luiz e estadia por uma semana em hotel de luxo.
Lá se foi Rúbia com seus cabelos ruivos naturais, olhos claríssimos que ficam entre o verde e azul e a timidez zen.
Durante uma semana participou de workshops literários, foi ao teatro, ao cinema, a bibliotecas... Fez amizade com outras jovens também premiadas em outros Estados.
No penúltimo dia resolveu por conta própria dar umas bandas por aí. Inadivertidamente foi parar num bairro conhecido por Liberdade.
Em Liberdade viu a miséria de perto. Não essa miséria que estamos habituados ver em ruas ou favelas de São Paulo, Rio...
Conta que viu a miséria extrema. Viu de perto à família lumpem, que só conhecia dos livros de Dostoiévsky,Gorky, Tchékov...
Conta que a ela foi oferecida uma garotinha de 12 anos por R$50, garota que poderia lhe servir como doméstica, ou seja, escrava pelo resto da vida em São Paulo ou para onde a “compradora” a levasse.
Ao último dia estava reservada uma cerimônia na Academia Maranhense de Letras. Rúbia pediu a palavra. Deram palavra a uma menina ruiva tingida de revolta, olhos injetados e sem timidez alguma.
Durante quinze minutos a paulista de Ribeirão Preto contou a experiência vivida em Liberdade. Falou sobre luta de classes, da fome, de revolta, da podridão destinada aos estratos inferiores da sociedade. Contrapôs Liberdade com a Ilha de Curupu, reserva ambiental que pertence a “famíglia” Sarney.
De volta ao hotel encontrou sua mala já no saguão. Informaram que sua estadia estava vencida. No aeroporto ficou sabendo que a passagem de volta fora cancelada.
Na rodoviária tomou um ônibus com o pouco que tinha na bolsa. Chegou ontem a Ribeirão Preto depois de cinco dias de viagem.
Hoje pela manhã Rúbia apareceu para trabalhar. Vestia camiseta preta com retrato de Che Guevara e onde se podia ler : Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.
Ah, no caminho de volta, Rúbia leu num restaurante de beira de estrada que Lula estava defendendo Sarney. Foi por isso que pintou “PT Nunca Mais” bem abaixo da frase do Che estampada na camiseta.
agilsonfilho@gmail.com blogdogilsonfilho.blogspot.com

8 comentários:

Luiz Paulo Tupynambá disse...

Conheci Rúbia em meados de 2008, trabalhou comigo na Agência Cultural BRP, um trabalho chato de digitação de documentos. Mas foi lá, chatice por chaticetice, ela, como todos nós, precisava defender o seu. Lembro da menina bonita e tímida, que errava alguns lançamentos, mas acertava muito na simpatia com os colegas de trabalho. Simples, com a humildade que só anjos tem, tentava aprender a ganhar a sobrevivência que precisava naquele momento num mundo que não pertence aos anjos.
Depois deste trabalho terminado, nos vimos poucas vezes. Uma ou duas vezes no Cauim, uma vez na rua, ali no Centro. A última vez que a vi, estava lá no palco do Ribeirão em Cena, em uma aula de canto, batalhando como sempre. Sonho de ser uma atriz competente, reconhecida. Ela já é uma mulher reconhecida, agora, depois desse episódio. Tem tímidez, mas tem caráter. Tem pouca experiência, mas tem a força dos jovens talentos.
Quero te dar um abraço fraterno e dizer para você que a sua atitude me faze pensar no que estou fazendo hoje. Não é preciso ser militante de partido político, nem de movimento nenhum que seja, para indignar-se com o que se passa em nosso País atualmente. Você é uma mulher corajosa, assumiu a atitude que todos nós deveríamos assumir, ainda mais nós que somos mais velhos que você, que já conhecemos isso a muito tempo.
Você vai longe, vai ser uma grande atriz e uma grande escritora, pelo menos. Obrigado pela ~chacoalhada~ que a sua atitude corajosa deu em nós, militantes mais velhos.
Beijos no coração, você vale muito.

Anônimo disse...

nao aponte o dedo pro lula gilson filho. pq se nessa gestao tivesse eleito prefeiro petista vc estaria do lado do pt e jamais escreveria isso no seu blogger.jamais arriscaria seu status politico pela causa. vc acusa mas todo fim de gestao fica na corda bamba. se cortarem sua lingua e seus dedos quero ver quem acredita nessa ladainha.atitudes rasas e verborragia descartavel.

Gilson Filho disse...

status político? durma-se com um barulho destes...

Gilson Filho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gilson Filho disse...

“Eles pensam que os jornalistas só escrevem com as mãos”.De Antonio Maria, jornalista que teve as mãos pisoteadas por escrever de mais

Gilson Filho disse...

Aponto o dedo para o Lula, sim.Digo porque:Estava em Vila Euclides;trabalhei duro na fundação do PT nacional;sou fundador dos diretórios do PT em E.S.Pinhal e Campinas;com exceção da última eleição municipal sempre votei no PT de A a Z.
Tem mais:tenho coragem de assinar tudo que escrevo. Jamais me escondi no anonimato,mesmo que tenha a lingua e os dedos cortados.

ericcandido disse...

vergonha vergonha Vergonha!, Ao que aconteceu com Rubia, Fiquei extremamente triste!, Tive a oportunidade de poder trabalhar 6 meses em uma oficina de teatro em que ambos participamos... Fiquei realmente desapontado em saber que isso tudo aconteceu.
Oque me deixa mais triste porem é ver aqueles que enfim poderiam ser a esperança do brasil, dando as costas para aqueles que mais precisam, Quando tem nas mãos a oportunidade de ser igual a todos aqueles que criticaram.Quando explorados Diziam NÃO, quando exploradores Dizem SIM!... que horror que horror que horror! ver que o ser humano é facilmente corrompido

"E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos
do mundo. E disse-lhe o Diabo: Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi
entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu
Deus e só a Ele servirás." (Lucas, cap. V, vs. 5-8.)

Tive a oportunidade de viver na pele como é ser parte do lupum proletariado e senti na pele a revolta que é ser esquecido pela sociedade de madames e cavalheiros

me lembro de che guevara
"Se voce se enfurece com toda injustiça que acontece no mundo então somos companheiros"

Cleber Akamine disse...

Como pode tal "anônimo" fazer tais afirmativas de que o Gilson "estaria do lado do pt e jamais escreveria isso"?!
Ao mesmo tempo, por que se escondes no anonimato? Qual o temor? Não assumes tua identidade, se é que a tem?!
És obra da ficção? Siga tua vida nesse mundo de ficções, do faz de conta e seja feliz!