segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Carta a uma jovem atriz




Ontem voltastes ao palco de onde destes os primeiros passos para a glória.
Estavas deslumbrante, inebriante, primorosa, essencial em seu trabalho.
Nem lembravas aquela menina rechonchundinha, pura, sedenta por aprender e que foi acolhida com tanto carinho nas nossas oficinas de iniciação ao teatro.
O tempo para ti passou célere. O suficiente para cresceres rapidamente como crescem as celebridades, os verdadeiros artistas.
Hoje és uma atriz. Pro-fi-ssi-o-nal.
Visceral, criativa, impecável. Uma Duse, uma Montenegro, uma estrela, verdadeira estrela.
Sua interpretação consolida o domínio das nuances só possível às grandes interpretes. És no palco o fluído mais refinado da arte dramática.
Você não pode imaginar o prazer que tivemos ao vê-la novamente em nosso modesto palco, mesmo porque, além de grande atriz, és possuidora de caráter irreparável. Não és daquelas que costumam cuspir no prato que comem.
Só ficamos um pouco tristes, porque nosso modesto espaço, “sem estrutura”, não estava à altura de seu talento. Um pouco tristes por obrigados cobrar um pequeno óbolo retirado da bilheteria. Infelizmente ainda necessitamos de donativos. Espero que sua imensurável generosidade possa falar mais alto e nos perdoar por isso. Na verdade, nossa vontade, era de poder pagá-la pela noite memorável que nos proporcionou. Mas isso ainda é impossível. Somos apenas um teatrinho sem estrutura, uma escolinha para iniciantes.Um grupo de "bobos Plin" lutando para que muitos outros tenham a mesma oportunidade que tiveste um dia.

8 comentários:

Flávio Racy disse...

Salve Gilson.
Acredito saber de quem falas...
E devo dizer que fiquei deslumbrado com o trabalho que vi em cena, apresentado por essa atriz.
Lembro dela começando e vendo seu trabalho hoje fica claro o quanto o comprometimento, a vontade e a dedicação são importantes para engrandecer o talento de um artista. Ela eu sei que se dedica muito, e isso se reflete no seu trabalho.
Maravilhosa!
Abraços,
Flávio

Nathália Fernandes disse...

Confesso que li e reli várias vezes essa postagem e sem prepotência alguma acredito que seja pra mim.
Na verdade, apenas duas coisas denunciaram um pouco:
O termo “ Rechonchudinha” e claro, a crítica no final da postagem.
Afinal de contas, fui eu quem questionou os 30 % (trinta) da bilheteria. Mas foi só um questionamento mesmo, aliás, estou acostumada a dizer o que todos pensam, mas nunca costumam se manifestar. E embora isso não mude o mundo e não faça uma revolução, não posso achar justo que um produto bruto seja divido em 30% para aluguel de um espaço (seja ele qual for) e 20% para um produtor. 50% é muito pouco para o ator que trabalha quase todos os dias da semana, que faz aulas de corpo, de voz, que estuda história do teatro, psicologia teatral, por coincidência ética e legislação teatral,que investe em instrumentos e aulas de música e que principalmente, tem uma faculdade pra pagar. Poderia entrar em debate sobre a educação, mas deixemos essa discussão pra um outro dia.

Acredito que o momento mais difícil para o artista é quando ele decide viver da arte.
É difícil porque ele opta pelo caminho mais longo, o qual vai precisar lutar incansavelmente até o fim de seus dias.
Então descobre que vai precisar sim bater o pé muitas vezes, gritar desaforo e entre tudo isso, conquistar admiração e provocar decepções. Isso é um processo normal na vida artística e pessoal.

Relutei muito em voltar para o espaço que um dia, eu sai.
Relutei porque certa vez, ouvi que minha presença não seria desejada nem que eu estivesse “pintada de ouro”.
Talvez na esperança de me tornar uma peça “valiosa”, esperei um tempo e nesse tempo, descobri outras coisas, conheci outras pessoas e percebi que minha sede por aprender e sentir o teatro não havia se esgotado (nunca se esgota).
Depois, vi que fiz certo em voltar e rever pessoas queridas; reviver algumas coisas que estavam perdidas em mim: Olhar para o espaço, agora com ar condicionado, com espelhos no camarim e com tudo que foi conquistado com suor ...

Confesso que realmente, ali, naquele momento, senti que minha paixão pelo teatro e principalmente o respeito que criei, e vou continuar tendo por ele, nasceu ali, no Espaço SantaElisaVale com os antigos profissionais dali.
E sem dúvidas, espero que todos que tenham oportunidade de passar por ele, não somente passem. Espero que contribuam, trabalhem, se dediquem a ele. Pois foi partindo de lá que conquistei batalhando muito, todas as oportunidades que hoje tenho.

Hoje, continuo na busca de me tornar um dia, uma grande atriz. Não grande na ironia de palavras jogadas aqui, sem finalidade, mas de poder me superar a cada dia, na certeza de que sou uma atriz profissional sim, pela conduta e não só por um simples registro na carteira de trabalho. E continuarei buscando o respeito pelo bom teatro!

Quero um dia poder dominar uma boa escrita, escolher minhas mais sinceras palavras , e principalmente ter tempo para criar um blog e escrever minha eterna gratidão a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, e a todos os patrocinadores do Projeto Ribeirão em Cena, que proporcionou meu primeiro degrau no teatro.
Agradeço também a equipe do Espaço SantaElisaVale, que me acolheu tão bem. E mesmo sabendo que daqui um tempo, serão outras pessoas , e depois outras e outras como um ciclo, sinto que elas sempre estarão cheias de boa vontade e com brilho nos olhos para contribuir com o espaço, como um dia eu também fiz, com todo amor e crença.

Acho que encerro minha resposta aqui.
Acaso essa postagem não seja para mim, me perdoe. Porém uma carta sem destinatário qualquer um pode abrir e supor que seja para ele.
E mesmo que não seja, obrigada pela oportunidade (mais uma entre tantas, né?) de me expressar aqui, no seu blog, Gilson Filho. (Não sei escrever à surdina).

Um abraço,
Nathália Fernandes.

Ana Alice disse...

Nathália,eu também não concordo. Não concordo em ter que pagar o Imposto de Renda,o IPTU, o IPVA, o pedágio...
Talvez você, que é muito sabida,possa dizer como um "espaço" que não é público, pode no final do mês pagar a conta de água, de luz,de telefone. a faxineira,material de escritório,manutenção de equipamentos, etc,etc,etc...
Sem isso minha amiga, não tem palco.Não tem atriz!

Anônimo disse...

Também concordo. A partir de hoje não pago mais o aluguel.Se atriz se acha no direito de usar o tetro sem pagar, também não pago mais meu apartamento.Afinal, sou engenheiro.

Anônimo disse...

Olá Ana Alice e Paulo!
Vou responder para os dois, da mesma forma, porque coincidentemente foram as mesmas coisas apontadas.
Em algum momento citei em não pagar o aluguel do espaço?
Muito pelo contrário, acho justo pagar aluguel, acho justo pagar produtor e acho justo receber.
Aliás, tenho uma sede onde ensaio, deixo meus cenários e figurinos e sim! Pago aluguel em dia, contas de água, luz.
Se vivemos num mundo capitalista e se somos vítimas e percurssores dele, vamos usar sim nosso instrumento chamado dinheiro.
Agora não posso deixar de questionar os 30%, sendo que nos demais teatro a bilheteria é 20%, o que eu, particularmente, acho muito bem pago.
Eu não vou entrar em questão dos gastos do Santa Elisa. O espaço não é público, mas pelo o que eu saiba, também não é privado. Ou é? Uma ONG sem fins lucrativos. Se existe apoio de prefeitura, apoio de patrocinadores, e incentivos públicos, gostaria de entender o porque dessa porcentagem não ser questionada.
E Ana Alice, vc tem mais um motivo para questionar essas coisas, já que paga seus impostos em dia.

Também pago os meus e vou lutar pela classe teatral enquanto estiver nela. Pode ser que daqui um tempo, eu queira me torna faxineira, aí vou lutar pra ser registrada e por aí vai.

Não se pode tirar o direito de manifestação.
E foi só isso que fiz.

Um abraço, e continuem pagando suas contas, ou então manifestem-se contra de forma prática.

Nathália Fernandes

Milton disse...

A reaçao deve ser outra caros, não a de deixar de pagar o apartamento ou o que quer que seja. Continuem pagando mesmo o IPTU, IPVA, o pedágio e achando normal gastar além do combustivel, mais 80 e tantos reais para ir e voltar a SP, e nao conseguir assistir a uma peça decente na cidade citada, caros atores e admiradores do teatro.
A reação deve ser outra. Paguem o aluguel, mas paguem em dobro!
Se entenderam que Nathália disse que nao concorda em pagar nada, é o que posso dizer, pois faço questao de entender dessa forma comentários rasos. Aliás, se realmente entenderam isso, paguem por uns livros, mas não se esqueçam, paguem em dobro, ou engenheiro só faz cálculos?
É aí que surgem conversas vãs...

Anônimo disse...

De um jovem ator. Para as ruas sem saída do teatro.

Caro Gilson Filho,
estou convicto de que não és somente membro de uma escolhinha para iniciantes. És muito mais que isso quando abres portas para a cidade conhecer o bom teatro, que pessoalmente já tive oportunidade de ver em teu palco. Vi subirem lá diversos bons atores, atores agradáveis, atores nem tanto, músicos talentosos, ao lado de outros nem tanto, um som bem cuidado, uma iluminação razoável, mas bem cuidada e sempre olhei para isso com grande admiração.
E com mais admiração ainda olhei para os atores, e fiquei me perguntando ao ver grupos enormes apresentando para 20, 30 pessoas, quando na casa deve caber perto dos 150, que proveito tiram disso se não somente o de apresentar. Sinceramente eu não sei. Mas como um jovem ator vivo em vislumbres ainda. Uma meia luz bem pouco satisfatória iluminando as beiras da estrada onde ficam as ruas sem saída.
Em uma dessas ruas sem saída, vi uma inversão dos valores, mas tudo em nome da modéstia, creio eu. Tens um espaço primoroso, de uma estrutura impecável, com iluminação e qualidade de som e técnicos indiscutíveis, uma fineza e conforto de camarim e de palco e de platéia, e tudo isso certamente conseguido sem ajuda de alunos, somente com o teu suor. E diferente do que li em tua carta, oscilante entre a formalidade do “tu” e da proximidade do “você” (que certamente foi só um deslize gramatical e nada que denuncie sentimentos), não vi atriz nenhuma à altura do espaço. Vi atores e atrizes brilhantes, com belas vozes, interpretações interessantes, uma direção que soube aproveitar a sintonia de um grupo que trabalha junto dias a fio, mas nada à altura da estrutura que os acolheu. Peço que deixes, pois, de modéstia e ironia, talvez elas firam gratuitamente quem as ouve (ou lê).
Mas sigo minha carta a ti com um questionamento talvez bobo e infundado, mas de grande presença e minha mente de jovem péssimo ator iniciante. Como um espaço com esta localidade central na cidade, com alunos que acabam por ser o público mais fiel, não lota em praticamente toda sessão? Creio que devamos, eu, tu e eles pensar na educação do povo de Ribeirão Preto para o teatro com o palco italiano. Pois não é possível, só pode ser algo contra este palco, uma cidade levar 500 pessoas ao teatro de arena para assistir ao mesmo grupo que angariou não mais que 100 pessoas em dois dias de apresentação em teu espaço. Por enquanto, estou me calcando no fato de ser difícil parar o carro no centro da cidade (mas por favor, não fales de quem vai à pé, pois quem paga teu preço tem seu carro). Não sei, mas não achei explicação satisfatória ainda.
Mas deixemos as explicações de lado, por ora, e fiquemos com a esperança de ver sempre o bom teatro, em um lugar com uma conduta além de pro-fis-sio-nal, de in-cen-ti-vo às jovens atrizes que querem viver (inclusive financeiramente) das apresentações de seu excelente trabalho.
Sem mais, agradeço a ti pela atenção e oportunidade de manifestar minha humilde opinião sem cobrar um pequeno óbolo por isso. E me despeço com a sincera sensação de que estas trocas de cartas não passam de ecos de uma rua sem saída.

PS: Sabes e conheces bem o porquê do anonimato.

Anônimo disse...
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