quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Crime ecológico coletivo
A maioria das pessoas ainda não se deu conta da catástofre que está acontecendo no subsolo. Registra-se um rebaixamento assustador nas reservas do Aqüífero Guarani no lençol ribeiropretano. A reposição, segundo especialistas, levaria, no mínimo, 300 anos. Apesar disso o desperdício irresponsável continua. Principalmente nos bairros de elite, onde, nos prédios de alto luxo, lava-se as calçadas diariamente com máquina tipo wap. Mais ainda: principalmente nos vazamentos sob a responsabilidade, ou irresponsabilidade, do Daerp.Consta que dos vazamentos do Daerp jorram milhões de litros dia. Mas como tudo tem um porém, o jornal Gazeta, de hoje, publica que a cobrança pela água do aqüífero e dos rios vai ser cobrada as empresas,produtores rurais e Daerp. Medida acertadíssima. Mesmo porque dizem que o arrecadado vai ser usado no combate ao desperdício. Resta saber por que esperar até 2010? Com esse desperdício incontrolável como chegaremos a 2010? Secos? Levando em consideração que o consumidor brasileiro só “acorda” quando mexem com seu bolso, passou da hora de o Daerp criar também uma tarifa social para o pobres e aumentar pra valer o valor cobrado dos novos ricos da Fiusa e adjacências onde o desperdício é vergonhoso do ponto de vista da cidadania, da falta de consciência, para não dizer da ignorância.
Em tempo: O Shoping Santa Úrsula é um exemplo da falta de respeito ao coletivo. Quem quiser comprovar é só passar pelo local.No período da manhã a calçada é “varrida” todos os dias com milhares de litros e máquina wap.Tem mais: há anos um rio vaza do shoping na esquina da Garibaldi com Prudente. É tanta água que até lodo formou no asfalto.
Desculpem a repetição, mas para acompanhar esta triste realidade só mesmo relendo o Brecht que segue abaixo.
AOS QUE VIEREM DEPOIS DE NÓS
Bertolt Brecht
(Tradução de Fernando Peixoto)
É verdade, eu vivo num tempo sombrio!
Uma palavra sem malícia é sinal de tolice.
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ri
Ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
Falar sobre árvores é quase um crime
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que atravessa a rua tranqüilo
Já está inacessível aos amigos
Que passam necessidades?
É verdade: eu ainda ganho bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso.
Nada do que faço
Me dá o direito de comer quando tenho fome.
Estou sendo poupado por acaso.
(Se a minha sorte me deixa, estou perdido.)
Me dizem: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que eu posso comer e beber
Se a comida que como, tiro de quem tem fome?
Se a água que bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas mesmo assim, eu como e bebo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Se manter afastado dos conflitos do mundo
E passar sem medo
O curto tempo que se tem para viver;
Seguir seu caminho sem violência;
Pagar o mal com o bem;
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim!
É verdade, eu vivo num tempo sombrio!
Eu vim para a cidade no tempo da desordem
Quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
E me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas.
Para dormir, eu me deitei entre os assassinos.
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a Natureza.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado dado viver sobre a Terra.
No meu tempo as ruas conduziam ao lodo,
E as palavras me denunciavam ao carrasco.
Eu podia muito pouco, mas o poder dos patrões
Era mais seguro sem mim, espero.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado dado viver sobre a Terra.
As forças eram limitadas.
O objetivo permanecia a uma longa distância.
Era nitidamente visível, mas para mim
Quase fora do alcance.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado dado viver sobre a Terra.
Vocês, que vão emergir
Das ondas em que nos afogamos.
Pensem, quando falarem das nossas fraquezas,
Dos tempos sombrios de que tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através das lutas de classes,
Mudando mais de país do que de sapatos,
Desesperados quando só havia injustiça
E não havia revolta.
Nós sabemos:
O ódio contra a baixeza
Também endurece o rosto;
A cólera contra a injustiça
Também faz a voz ficar rouca.
Infelizmente nós,
Que queríamos preparar o terreno para a amizade,
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
Em que o Homem seja amigo do Homem,
Pensem em nós
Só com bondade
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