quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Vieira e o crápula envangélico


O ator Zé Mauricio Cagno recomendou, hoje pela manhã, a leitura do Sermão da Sexagésima do Vieira. Ansioso que sou, antes de ir até a livraria, corri para a Internet dar uma “olhadinha” no texto. Após leitura rápida e ainda superficial, deparo, ao lado do computador,com a edição desta quinta-feira de “A Tribuna”. Fotos de duas crianças torturadas ontem por um pastor da igreja Deus é Amor, em Sertãozinho, estão na primeira página.Não há adjetivo para qualificar semelhante barbaridade. Com o sermão de Vieira ainda na tela, fico pensando que talvez, em outros tempos, as pessoas eram mais qualificadas para “conduzir rebanhos”. Digo isso levando em consideração, é claro, a polemica histórica que cerca a passagem da Companhia de Jesus pelo Brasil Colônia e a dubiedade da atitude dos jesuítas e de outras ordens missionárias em relação à questão indígena. Ou ainda dos padres pedófilos da modernidade.O certo é que venho observando, que hoje, qualquer mentecapto pode abrir uma igreja, virar pastor e até bispo. A Lei que garante a liberdade religiosa pode ser considerada uma Lei? Sim, porque até onde eu enxergo, só consigo ver que essa Lei não regulariza absolutamente nada. Então, esses sem lei, estão por aí a enganar incautos, analfabetos e o mais humildes. A fera de Sertãozinho era pastor da Igreja Deus é Amor. O nome do facínora: Marcelo.
Não foi para a cadeia protegido por outra Lei: No Brasil agressão não caracteriza flagrante, segundo a delegada que “cuidou” do caso. Meu Deus!!!
Em tempo: No Rio de Janeiro outro Marcelo está em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais. Gabeira em último.

TRECHO SERMÃO DA SEXAGÉSIMA- Antonio Vieira
Antigamente convertia-se o Mundo, hoje porque se não converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obra são tiros sem bala; atroam, mas não ferem. A funda de David derrubou o gigante, mas não o derrubou com o estalo, senão com a pedra: Infixus est lapis in fronte ejus. As vozes da harpa de David lançavam fora os demônios do corpo de Saul, mas não eram vozes pronunciadas com a boca, eram vozes formadas com a mão: David tollebat citharam, et percutiebat manu sua. Por isso Cristo comparou o pregador ao semeador. O pregar que é falar faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras. Diz o Evangelho que a palavra de Deus frutificou cento por um. Que quer isto dizer? Quer dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? -- Não. Quer dizer que de poucas palavras nasceram muitas obras. Pois palavras que frutificam obras, vede se podem ser só palavras! Quis Deus converter o Mundo, e que fez? -- Mandou ao Mundo seu Filho feito homem. Notai. O Filho de Deus, enquanto Deus, é palavra de Deus, não é obra de Deus: Genitum non factum. O Filho de Deus, enquanto Deus e Homem, é palavra de Deus e obra de Deus juntamente: Verbum caro factum est. De maneira que até de sua palavra desacompanhada de obras não fiou Deus a conversão dos homens. Na união da palavra de Deus com a maior obra de Deus consistiu a eficácia da salvação do Mundo. Verbo Divino é palavra divina; mas importa pouco que as nossas palavras sejam divinas, se forem desacompanhadas de obras. A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos. No Céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de o amar. Na terra há tão poucos que o amem, todos o ofendem. Deus não é o mesmo, e tão digno de ser amado no Céu e na Terra? Pois como no Céu obriga e necessita a todos a o amarem, e na terra não? A razão é porque Deus no Céu é Deus visto; Deus na terra é Deus ouvido. No Céu entra o conhecimento de Deus à alma pelos olhos: Videbimus eum sicut est; na terra entra-lhe o conhecimento de Deus pelos ouvidos: Fides ex auditu; e o que entra pelos ouvidos crê-se, o que entra pelos olhos necessita. Viram os ouvintes em nós o que nos ouvem a nós, e o abalo e os efeitos do sermão seriam muito outros.

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