sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Caiu o Ministério:Bastidores


Uma hepatite me afastou do elenco no final da temporada de “Um Bonde Chamado Desejo”, que Kiko Jaess dirigiu com Eva Wilma, Pepita Rodrigues, Nuno Leal Maia, Ivete Bonfá, Edney Giovenazzi, Rubens Rollo e Clemente Viscaíno. Quarenta dias no estaleiro em Pinhal e de volta a São Paulo encontro de cara o jornalista Hilton Viana de “O Diário da Noite” em frente ao Teatro Paiol:
-Rapaz, que coincidência te encontrar. O Osmar me ligou agora à tarde. Está que nem louco procurando um ator para substituir o irmão do Giba Um. A peça estréia em uma semana.O personagem tem a tua cara. É jogo rápido.
Entrei em parafuso. Eu? Indicado pelo Hilton Viana??? Trabalhar com o Osmar Rodrigues Cruz??? Era muita sorte!!!
Hilton não me deu tempo. Foi logo fazendo sinal para um taxi e em quinze minutos já estávamos conversando com o Osmar no saguão do Teatro Maria Della Costa. Eu não pude acreditar quando vi o elenco chegando:Cláudio Corrêa e Castro, Abraão Farc, Benjamim Catan, Toni Ramos, Marcos Plonka, Kleber Afonso, Carlinhos Silveira, Ézio Ramos, Nize Silva, Ana Maria Dias, Lilian Fernandes, Maria Yuma Nery, Amilton Monteiro, Felipe Levy, Gibe. Fiz um teste rápido e tremi quando soube que iria fazer “escada” para ninguém menos que Tony Ramo. Com um elenco destes, não podia dar outra: “Caiu o Ministério”, de França Junior, ficou dois anos em cartaz. Era uma família trabalhando junta. Mais que isso, criando sem cessar. Depois do primeiro ano vieram os cacos. Era preciso estar em alerta constante. Entravamos em cena prontos para improvisar diante das “pegadinhas” que eram preparadas sigilosamente nos camarins antes de cada espetáculo. Abraão Farc fazia o Ministro da Guerra. Criou um tipo maluco, que durante a cena reunindo o Ministério (a mais hilariante da peça), simulava um revólver com os dedos da mão e atirava disfarçadamente nos seus pares, entrincheirado entre as cadeiras. Os outros personagens, entrando na brincadeira, tentavam flagrar Abraão que escondia o revólver (mão) no bolso da casaca, provocando risos da platéia. Mais alguns minutos e lá estava ele novamente “atirando” nos Ministros às escondidas. Certa noite, Felipe Levy, chega ao camarim com um estranho embrulho e com cara de quem iria aprontar uma grande sacanagem. Não deu outra.Posicionou-se na coxia fingindo concentração.Aguardou o início da grande cena e quando Abraão Farc apontou o revólver imaginário na direção de Claudio Correa e Castro, Felipe Levy disparou. Um estrondoso tiro de festim quase “derrubou” o teatro. Silêncio sepulcral seguiu-se ao susto do elenco e público. Abraão refeito percebeu a sacanagem de Levy e começou a rir. O riso foi contagiando todos que estavam em cena. Virou gargalhada e o pior: Plonka contrai o maxilar para não rir e o esforço faz com que a prótese dentária que usava, caísse sobre o colo de Benjamim Cattan, sentado no sofá no centro do palco. Este ator extraordinário, também tentou segurar a gargalhada. Não conseguiu. E o esforço fez com que, literalmente, urinasse em cena aberta na calça de cetim roxa que usava. O público delirou. Como diria Nelson Rodrigues: Urrou. A situação ficou incontrolável. Ás pressas o contra-regra foi obrigado a baixar o pano. Só depois de uns quinze minutos, com o elenco recomposto, recomeçou o espetáculo com todos devidamente multados na tabela.
Lembrei desta história porque domingo passado vi Osmar Rodrigues Cruz na TV SESC , em um depoimento gravado, falando de Antunes Filho.Osmar faleceu ano passado.
Ando muito emotivo ultimamente. Chorei. Tenho muitas saudades de todos, principalmente do Osmar. Foi um verdadeiro pai para mim.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pô Gilson Filho!... Depois de quase meio século ainda não aprendeu que meu nome é sem "agá"????
Afinal o nome do ator é seu único bem, concorda?
beijos, estou seguindo diariamente o seu blog. Está muuuito bom. E com as informações até dá para cumprimentar os amigos, como o Dino.
Amilton Monteiro

Anônimo disse...

Oi!Brigagão, parabéns pelo blog.
Tô acompanhando, esta muito legal.

Anônimo disse...

nossa nesse Brasil sem memória fico imaginando quantos do que leu o que vc disse (fora a emoção que vc passou) quantos sabem quem foi esse mundaréu de gente boa atores e atrizes que vc mencionou. Por andam eles? já que não fazem parte na maioria os padronetes globais? em fim, bons tempos...
ALBERTO PINTO

Unknown disse...

Alô Gilson, belo bigode!!!

É um cruzamento do Barão de Munchausen com o Hugo Carvana, rá.

Abrass e inté
Régis Martins

Juliano Dip disse...

Você esqueceu de falar do "sonho de uma noite de verão"?
Beijos e saudades, Kiko Jaess