terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Um presente de Bosco Martins
Caríssimo Brigagão,
Envio material para sua apreciação sobre o poeta Manoel de Barros que sairá no final de Dezembro na Caros Amigos. Estamos liberando o material que segue para alguns poucos veiculos, de importância relevante em nossa mídia, como é o caso do seu blog.
Uma entrevista exclusiva com o autor de Memórias Inventadas - A Terceira Infância- e maior vendedor de livros de poesia do País.
Lançada no mercado de publicações, por um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros, Sergio de Souza ( que partiu este ano), a revista Caros Amigos sempre circulou, nestes 11 anos, sob um ponto de vista original e diferenciado. Neste final de ano presenteia seus leitores e fãs, trazendo uma entrevista exclusiva com o poeta pantaneiro: Manoel de Barros. Reza a lenda, que cada vez mais arredio à imprensa ( perdeu um filho recente) e avesso a entrevistas, à Caros Amigos, mais uma vez, conseguiu o feito, por sua admiração à revista e seus editores e pela interlocução de seu correspondente no Mato Grosso do Sul, o repórter Bosco Martins. Amigo do poeta e de sua esposa Stella, há quase trinta anos, é um dos poucos jornalistas que ainda freqüenta sua intimidade e residência em Campo Grande/MS, onde mora o poeta. Esta relação de amizade, fez com que o mesmo se tornasse, uma espécie de interlocutor, dos admiradores que querem conhecê-lo. Desta feita, já estiveram na residência do casal, entre outros: José Hamilton Ribeiro, José Julio Chiavenato, Apolônio de Carvalho, Cássia Kiss, entre dezenas de globais, Gilberto Gil , ainda Ministro , que se “avexou” por o poeta tê-lo convidado à “praticar o ócio”, etc. Estas e outras estórias, se transformarão em livro ( já no prelo) devendo ser lançado em breve pelo jornalista. Mas é graças ao resultado desta intimidade entre o jornalista e o poeta que foi possível, à Caros Amigos, nos revelar confidências inéditas: Manoel o fala da obra de Paulo Coelho e de seu encontro com Vinicius Moraes, numa famosa casa da boêmia carioca da década de 60, do seu quase “encontro” com Manuel Bandeira e revela inclusive, uma decisão dolorosa à todos que amam sua poesia. Por conta da idade, o poeta revela ao jornalista, que “Memórias Inventadas- A Terceira Infância-” ( recém lançado pela Ed. Planeta), pode ser seu ultimo livro. Para os que acham pouco, mais revelações exclusivas sobre Manoel de Barros que completa neste mês Dezembro, 92 anos ( dia 19). Seguindo a sina de interlocutor e confidente do poeta , Bosco Martins, introduz desta vez , em sua sala de visitas outros dois jovens jornalistas, que trazem um presentão para ele nesta data especial: a informação de que sua obra ganhou tradução para língua inglesa. Suas tradutoras, como as de Guimarães Rosa e Machado de Assis, afirmam que foi preciso se desdobrarem para transportá-lo para a língua de Shakespeare. Sua “ originalidade lingüística,” provocou “um verdadeiro exercício semântico e poético”, garantem as duas, aos jornalistas João Carlos Lopes e José Santini. Juntos , com Bosco Martins assinam, este material imperdível e inédito. Um belo presente de natal, que poderá ser encontrado, nas bancas de todo o País, a partir do próximo 15 de Dezembro, numa tiragem de 50 mil exemplares. Leiam os principais trechos da matéria.
Manoel de Barros desvenda a infância da palavra
Maior vendedor de livros de poesia do País, o poeta pantaneiro diz que a semente da palavra é a voz de Deus, mas que só as crianças, os tontos e os poetas podem semeá-la
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BOSCO MARTINS
Mesmo quase sem escrever, Manoel de Barros não é o poeta triste e solitário à espera das horas. É na infância que ele continua a viver. E é dessa infância que nasce toda a sua poesia. Sua saudade é a fonte do minimalismo que eterniza as coisas sem importância do sertão pantaneiro. "Meu umbigo ainda não caiu. A ciência é essa: eu ainda sou infantil".
Mas a sua ciência não é lógica, é um contra-senso. Tudo nele é contraditório e desaforado. Nas paredes da sala de sua casa estão ladeados um arlequim de Degas e um velho retrato do vagabundo de Chaplin. No escritório onde produz uma poesia que só explica com imagens, as paredes são brancas. Nas suas mãos estão os profetas bíblicos, embora ele já tinha dito que é comunista.
Reservado, há mais de uma década ele se dedica a responder perguntas apenas por escrito. Foram raros os momentos em que se permitiu mostrar sob a palavra falada. Mas foi num desses raros momentos que ele recebeu a Caros Amigos em sua casa, em Campo Grande, cidade onde mora e mantém o seu "escritório de ser inútil, isto é, de ser poeta".
Mas que fique claro: esta entrevista não se trata de um lançamento do seu novo livro. Ele faz questão de enfatizar: "Eu não lanço nada. Porque essa palavra "lançar", lá em Cuiabá, quer dizer vomitar. Então eu nunca vomitei e nem vou vomitar aqui".
Leia os principais trechos da entrevista:
Leituras
Estou só relendo. Essa rapaziada mais nova eu quase não leio, inclusive porque estou prejudicado. Leio vinte minutos e começo a lacrimejar. Então eu leio as pessoas que já conheço e que gosto muito. Gosto demais de ler o Padre Antonio Viera, Guimarães Rosa, Machado de Assis, e o velho testamento: os Profetas do velho testamento. Sou fanático pelo velho testamento - pela literatura, como livros de arte. Não encaro aquilo como livro religioso - também me interessa, mas gosto principalmente dos profetas, me agrada muito a linguagem. Mas me angustia, sim, essa coisa de ler pouco. Porque eu acho que a literatura e qualquer arte serve para desabrochar a imaginação. E se você não tem boa leitura, não tem boa musica, não tem boa pintura, a sua imaginação, pelo menos a minha, eu acho que fica um pouco embotada, fica um pouco sem caminho e não desabrocha. Eu tenho escrito muito pouco, a minha imaginação criadora está muito prejudicada. Eu estou bem castrado, sabe. Mas não é culpa minha, velho é isso mesmo, tem limitações. A gente tem que aceitar sem chorar.
Escritório de ser inútil
É muito pequeno, só cabe a mim mesmo. Eu tive uma biblioteca lá no Rio, porque eu morei lá muitos anos, e quando eu mudei para Campo Grande, encaixotei tudo para enviar, mas se perdeu tudo pelo caminho. Não sei se foi algum roubo... Mas era uma biblioteca boa. [Hoje] tenho muitos coisas antigas, mas não tenho essa vaidade [de ter livros raros ou autografados]. E escrevo sempre a mão, no lápis. Eu tenho muitos lápis usados, sabe, muitos, uns cem. Continuo escrevendo até o toco, e depois guardo.
O dom da palavra
Primeiro eu sou cristão, eu acredito no dom. A pessoa nasce como uma predisposição, que eu chamo de dom para a arte. Eu acho que nasci com esse dom. Porque desde que me entendi por gente, com 13 anos, interno no Colégio dos Maristas, que eu fui ler pela primeira vez o Padre Antonio Vieira, foi que descobri o que era poesia, o que era literatura, o que era uma aplicação literária pela palavra. Então eu fiquei apaixonado pela palavra. Você sabe o que é se apaixonar pela palavra? É você sonhar com ela, e você tomar nota, e de manhã você saber se ela dormiu... A partir disso, eu nunca mais quis me aplicar a outra coisa. Eu achei que isso era a minha única destinação. Eu acho que poesia é um parafuso a mais na cabeça, outra uma vez três de menos. E nunca mais saiu da minha cabeça essa predestinação, essa tara, esse homicídio, essa obsessão pela palavra. Desde que comecei a ler o Vieira, eu também comecei a escrever. Escrevi para o meu pai e para minha mãe que já tinha descoberto minha vocação, que não era pra médico, dentista, engenheiro; era pra fazer frase. Eu chamo isso de dom.
Influências
Eu li toda a literatura portuguesa, todinha. Então fui ler francês, Rimbaud, Baudelaire, e esse pessoal toda da língua francesa. Morei nos Estados Unidos por um ano, para ler os poetas de língua inglesa. Mas o Padre Vieira me assusta, pela linguagem própria dele, pela linguagem poética dele, que é uma linguagem literária mesmo, e então descobri o que era literatura. Passei a ler tudo dele, todos os Sermões que ele tinha feito na vida dele, com o maior gosto. Foi um negócio que me levou para toda a literatura quatrocentista portuguesa. Eu passei do Vieira para os outros, Gil Vicente, Camões , etc. Então eu li toda a literatura portuguesa.
Desencontro com Manuel Bandeira
Conheci o Manuel Bandeira quando eu morava no Rio de Janeiro e dava aula na Faculdade de Filosofia, onde ele lecionava literatura. Ele morava em um apartamento - já tinha deixado o beco. Eu era apaixonado pela poesia dele, sou apaixonado pela poesia dele, gosto muito. Inclusive fui até Recife para conhecer a casa dele, na Rua da Aurora; cheguei lá e fiquei decepcionado: perguntei para as pessoas ali aonde era a casa dele, e ninguém conhecia quem era o Manuel Bandeira. Como eu já tinha ido a Pernambuco, resolvi conhecê-lo [pessoalmente, no Rio]; peguei coragem. Ele morava no quinto andar, em um edifício na Esplanada do Castelo. Subi até lá de elevador. Bati com o dedo na porta do apartamento, que eu sabia que era dele pelos jornais. Bati três vezes e não apareceu ninguém. Deu-me um medo, sabe, me deu um pavor. Saí correndo e desci pela escada a baixo. Não conheci o Bandeira. Eu fui para conhecê-lo, mas não o conheci por medo.
Encontro com Vinícius de Moraes
"Eu conheci Vinícius de Moraes num puteiro. Eu estava de férias em Corumbá, eu tinha vinte e poucos anos, e ele dirigia o Suplemento Literário do Jornal do Brasil. Eu resolvi escrever um poema e enviar lá para o Suplemento, assim de gozação comigo, eu sei que não ia merecer. Mandei para lá e na outra semana veio o meu poema na primeira página, e era um poema imenso. Aí então o Vinícius ficou sabendo que existia o Manoel de Barros. E um dia fui para o Rio, solteiro ainda, e fui para um dancing que existia na Av. Rio Branco. Então entrei e quando olhei lá no meio, sentado numa mesinha, estava o Vinícius, com uma mulata. Eu resolvi me apresentar, já tinha tomado até uns conhaques. Sentei na mesa e disse que era o Manoel de Barros, que ele tinha publicado um poema meu. Ele me cumprimentou e tal, mandou chamar uma mulata lá pra sentar comigo. Aí quando acabou o Dancing, agente foi tomar uma canja, tinha um lugar lá na Galeria Cruzeiro, onde tinha uma canja noturna, para os bêbados, assim ficamos amigos"
Academia
Não conheço nenhum intelectual brasileiro. Conheci só o Carlos Heitor Cony, lá em Cuiabá, quando recebi um prêmio do governador, e o Cony estava lá. No meio de uma porção de gente, e ele me viu e me chamou. Ele disse: "eu quero te falar só uma coisa, eu quero que você vá para a Academia Brasileira de Letras". Eu disse: "de jeito nenhum, não gosto de chá!" Falei mesmo para ele: "Cony, eu não tenho espírito acadêmico, não sou obediente à língua portuguesa, eu gosto muito de corromper a língua, e então ta fora esse negócio da academia." Eu seria um mal elemento lá, um chato. Não dá certo para mim, eu não tenho muito facilidade de conversar com intelectuais, sabe.
Linguagem
Sempre achei a linguagem destroncada mais bela que a comum. E sei que isso foi a causa de meu tardio reconhecimento. Eu concordaria que a linguagem é a minha matéria plástica. Eu plasmo a linguagem para me ser nela. Agora eu não sei se sou um defeito das minhas origens ou um efeito delas. Gosto da semente da palavra, que é a voz de Deus, que habita nas crianças, nos tontos, nos Profetas e nos poetas. Gosto da infância da palavra.
Minimalismo
Penso que vem de minha infância esse olhar minimalista. Eu fui criado no chão a brincar com os sapos e com as lagartixas. Eu tenho paixão pelas coisas sem importância. As coisas muito importantes me aniquilam. Dou como exemplo a bomba atômica. Eu escrevi este verso: O cu de uma formiga é mais importante do que uma bomba atômica. E eu acho mesmo!
Primeiro livro
O primeiro livro meu publicado foi por um camarada que eu encontrei na rua, sujeito do Rio Grande do Sul, que era editor. Ele perguntou se eu tinha algum livro pra publicar, eu disse que por acaso tinha um. Dei a ele o livro e ele leu na casa dele; disse que tinha gostado muito. Levou o livro lá para o Rio Grande do Sul e publicou. Mas [ele] nunca me disse nada, não fez contato comigo, e não sei de nada e não quero saber - e eu acho que o cara já morreu, há muito tempo!
Poesia de imagem
Eu acho que não sou [um poeta] popular. Eu acho que de certa maneira chego a ser difícil, porque tenho muita criação de imagem, sabe. As pessoas que gostam mais de usar a razão para ler, não gostam muito de mim. Só aqueles que usam a sensibilidade são meus leitores, eu tenho certeza disso. As pessoas que lêem querendo compreender, não. Porque eu não quero falar nada. São só umas imagens. Eu acho a minha poesia tem muito haver com as artes plásticas, e com o cinema também. Sou apaixonado pela pintura. Eu tenho a facilidade de enxergar atrás do quadro, aquilo que eles querem dizer.
Nova York
Eu sou um apaixonado pela vida primitiva, pelas origens nossas, e achei que era muito importante conhecer também a vida intelectual. Mas eu levei um choque, porque eu era primitivo quando cheguei lá [em Nova York]; e fiquei deslumbrado, aí a minha vida virou .Sabe o que eu fazia lá em Nova York? Eu ia para um lugar que eles chamam de 'clous ter', que é um convento que foi trazido da Itália, uma igrejinha do século XIII, trazida pedra por pedra para os Estados Unidos e reconstruída nesse lugar, que eu freqüentei todas as tardes para ouvir música barroca. Não é a minha cara não, né? (risos).
Testamento
O último poema.
Maior poeta em atividade no país revela ao jornalista Bosco Martins que pode ter escrito seu último livro
"Eu sou cuiabano de chapa e cruz. Mas fui criado no Pantanal de Corumbá, no chão de acampamentos, a ver meu pai fazendo cercas. Conheci as boas coisas do chão. Hoje o meu olhar é ajoelhado no chão a ver os caracóis da terra, as rãs das águas, os lagartos das pedras."
É assim que se define Manoel de Barros, aos 92 anos ( completa em 19 de Dezembro), sem dizer que é um dos maiores poetas contemporâneos e um dos poucos a a integrar o seleto grupo dos que já venderam mais de um milhão de livros. Mas ele explica: "Tenho paixão pelas coisas sem importância. As coisas muito importantes me aniquilam." Quase surdo, com os olhos lacrimosos de quem pouco vê, recém recuperado da perda de um filho, morto há um ano num acidente aéreo, Manoel confessa ainda, nesta entrevista exclusiva à Caros amigos, que seu novo livro, o último volume da trilogia que desvenda sua autobiografia, "Memórias Inventadas: A Terceira Infância" (Ed. Planeta) pode ser o último livro de sua carreira.
Último livro
“Meu último livro está aí lançado agora (Memórias Inventadas: A Terceira Infância, Ed. Planeta), e tenho recebido muitos telefonemas do Brasil inteiro sobre esse livro, que é um livrinho exíguo, sabe, mas é meu último livro, é alguma coisa que eu ainda precisava dizer. É meu último livro.”
Último livro?
Manoel de Barros - É meu último livro.
Não escreverá mais nada?
É meu último livro. Por enquanto, é meu último livro. Mas sei lá, sabe, pode acontecer...
Limites da idade e angústia
Me angustia, sim. Porque a literatura e qualquer arte serve para desabrochar a imaginação. E se você não tem boa leitura, não tem boa musica, não tem boa pintura, a sua imaginação fica um pouco embotada, fica um pouco sem caminho. Eu tenho escrito muito pouco. A minha imaginação criadora está muito prejudicada. Eu estou bem castrado, sabe. Mas não é culpa minha, velho é isso mesmo, tem limitações. A gente tem que aceitar sem chorar.
Record versus Planeta
A editora Record quer lançar minhas obras completas, mas a [ed.] Planeta, que publicou um livro meu só, não quer ceder os direitos para eles. Então está preso o livro de minhas obras completas. Eu não vou brigar com a Record e nem com a Planeta. Eu vou esperar meu contrato terminar. Mas sei lá se vou esperar...
Dinheiro e poesia?
Manoel de Barros - Ganho muito [dinheiro com a poesia]. Eu vendo muito bem, sabe. Primeiro eu recebo um adiantamento, e a venda dos livros paga o adiantamento e daí fico recebendo pela vendagem dos livros e dos outros que já estão publicados. Não é dinheirão, não - mas dá para viver. E recebo muitos prêmios também. Acaba que dá uma boa média.
Tradução para o Inglês - Eu tenho algumas traduções fora do país, mas não tinha nenhuma em inglês. Tenho em espanhol, alemão, francês e até em catalão. Teve um sujeito que tentou uma tradução minha para o inglês, mas ele veio falar comigo que broxou, porque tinha que inventar muitas palavras. Para minha tradução francesa, o tradutor teve que escrever mais de vinte cartas para mim. E o tradutor do alemão, que é o mesmo de Guimarães Rosa, também, fez a mesma coisa.
Lançamento nos EUA?
Manoel de Barros - Eu não lanço nada. Essa palavra lançar, lá em Cuiabá, quer dizer vomitar. Então eu nunca vomitei aqui e nem vou vomitar lá fora. Eu sempre tive editores, sabe. O primeiro foi o Ênio Silveira, da Civilização Brasileira, que me conheceu por acaso, eu acho que foi pela coluna do Millôr Fernandes, que teria lido um livro meu. Ele me telefonou, e eu fiquei espantado, bugre fica espantado, e me disse que queria publicar um livro meu. Até os 60 anos eu não tinha editor, mas já tinha publicado 8 livros.
MANOEL DE BARROS PRA INGLÊS LER
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JOÃO CARLOS GOMES
JOSÉ SANTINI
O poeta completa 92 anos e ganha tradução de sua obra para o inglês e publicação nos EUA.
Leia a entrevista exclusiva para Caros Amigos com suas tradutoras: Idra Novey e Flávia Rocha
Durante os dez anos em que morou no profundo sertão pantaneiro, administrando a sua fazenda Santa Cruz, Manoel de Barros não escreveu um só poema. Embora o pantanal seja o palco de seus versos, a produção de sua poesia é urbana. E ele admite a influência da cidade de Nova York na sua formação poética, por conta do período em que morou na metrópole americana, após uma viagem pela América Latina, vivendo com índios no Peru e na Bolívia.
Foi diante dessa poesia desafiadora que Idra Novey e Flávia Rocha resolveram traduzi-lo. Elas são as responsáveis pela primeira tradução do autor para o inglês: "A selection from shelter: The selected poems of Manoel de Barros", ainda sem previsão de lançamento, é o título definitivo da antologia que Caros Amigos teve acesso exclusivo.
Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista exclusiva:
Idra Novey
"Numa tradução, a gente vai decidindo o que sacrificar ou o que preservar do poema original, palavra por palavra"
Quem é
Poeta e tradutora americana, tem 29 anos. Mestra da em poesia na Columbia University, em Nova York, onde hoje também leciona poesia. Ganhadora do P.E.N Translation Fund Award, um dos mais prestigiados prêmios de tradução dos Estados Unidos, pela tradução dos poemas de Paulo Henriques Brito, de 2005. Dedica-se a ensinar poesia para detentos da penitenciária de segurança máxima de Nova York, no programa de formação universitária para presidiários do Bard College. Traduziu a maior parte dos poemas de Manoel de Barros para o inglês.
O que publicou
Organizou e selecionou os poemas de The Next Country, de 2005, e é a tradutora de The Clean Shirt of It: Poems of Paulo Henriques Britto, de 2007.
Flávia Rocha
"E acho que a tradução é uma transformação e uma apropriação das palavras"
Quem é
Jornalista e poeta paulistana, tem 34 anos. Mestrada em poesia na Columbia University, em Nova York, é uma das editoras da revista Rattapallax. Como jornalista trabalhou para Bravo!, Carta Capital, Valor Econômico e para a revista The New Yorker. É co-fundadora da Academia Internacional de Cinema, com sedes em São Paulo e Curitiba. Recentemente recebeu uma bolsa de apoio a produção de poesia da Biblioteca Nacional. Organizou e selecionou parte dos poemas para a tradução de Manoel de Barros para o inglês.
O que publicou
A Casa Azul ao Meio-dia, de 2004, uma seleção de poemas que foi também sua tese de mestrado.
A tradução será uma antologia de poemas, e foram quantos poemas traduzidos ao todo?
Idra Novey - Traduzi 75 poemas ao total. A idéia é oferece uma introdução a poesia de Manoel em inglês. É uma seleção de poemas importantes, exatamente igual ao que fiz para o livro de Paulo Henriques Brito, que traduzi no ano passado.
Flávia Rocha - É uma antologia de poemas selecionados de vários livros. Não tem nenhum livro que predomina, porque uma da característica mais marcante de Manoel de Barros é justamente a capacidade de ter um estilo muito definido, e os livros todos parecem fazer parte de um mesmo projeto, eles dão continuidade a uma linguagem e a um projeto lingüista que ele propõe. Eu acredito que dentro da toda obra dele há alguns poemas que falam mais ao leitor, e esses poemas não estão necessariamente em uma seleção.
A poesia de Manoel de Barros é muito rica em palavras inventadas. Como foi que vocês trabalharam isso nas traduções ?
Idra Novey - Parte do que me atrai na poesia de Manoel é a sua utilização de neologismos e as estruturas gramáticas surpreendentes. Isso faz o leitor perceber a linguagem com um novo olhar, e através da linguagem perceber o mundo com novos olhos. Tentei criar neologismos, na medida do possível. Às vezes é difícil inventar uma palavra que tenha o mesmo alcance, e não pareça uma tradução literal ou excessivamente forçada, mas é exatamente este desafio que me atraiu para o projeto. Por outro lado, como poeta, também quis traduzir os poemas com liberdade suficiente para uma boa poesia em Inglês, com a música e a fluidez capaz de agarrar a atenção e as emoções do leitor. Numa tradução, a gente vai decidindo o que sacrificar ou o que preservar do poema original, palavra por palavra.
Flávia Rocha - Eu não gosto de notas de rodapé ou coisas desse tipo de coisa. Eu acho que o poema tem que fazer sentido em si. Às vezes a tradução não vai conseguir, dependo do leitor, atingir o que é o poema. E quando você trata de um poema com forte ligação regional, isso se perde ainda mais. Mas a gente tenta manter o máximo possível de ligação com o regional, mas isso passa a não ser tão importante no conjunto geral das coisas. O importante é que o poema funcione.
Como é resolver traduzir e lançar um poeta que, além de latino-americano, é ainda desconhecido nos Estados Unidos? E esse tipo de trabalho recebe algum apoio ou é facilmente aceito pelo mercado editorial?
Flávia Rocha - Isso agente sabia que seria difícil, porque ele é um poeta totalmente desconhecido [nos Estados Unidos]. Adélia Prado, por exemplo, é mais conhecida, como também o Ferreira Gullar. É que depende muito, quando você fala de poetas brasileiros ou mesmo de autores de prosa. [Depende] do projeto pessoal de algum tradutor americano que tenha se encantado com o autor. Não são fatores de mercado, são projetos pessoais de tradutores, com interesses individuais envolvidos nesse mercado literário de ficção, que é muito pequeno e muito restrito às universidades.
Idra Novey - Mas para essa tradução eu ganhei uma bolsa da National Endowment for the Arts (NEA). Uns dez tradutores, poetas e escritores ganham bolsas do NEA todos os anos. É um programa governamental. A idéia é que com a bolsa o autor possa deixar de trabalhar por um tempo, ou trabalhar menos, para poder terminar o livro.
Como foi o contato de vocês com Manoel de Barros para realizar as traduções ?
Flávia Rocha - Antes de começar a traduzir, eu entrei em contato com ele. Ele deu muita liberdade para as nossas escolhas, nos deixou muito livre no nosso trabalho, desde o princípio, sem qualquer restrição. A gente não sabia como ele receberia essa idéia, ainda mais por ser uma poesia que tem um trabalho de linguagem e uma conexão local muito grande, mas ele recebeu muito bem, o que eu acho que demonstra uma visão de que a poesia se transforma em outras coisas, usando essa idéia transformadora do próprio Manoel de Barros. E acho que a tradução é uma transformação e uma apropriação das palavras.
BOSCO MARTINS – correspondente da Caros Amigos/MS, colaborador dos sites: comunique-se, overmundo e cronópios.
bosco.martins@carosamigos.com.br
JOÃO CARLOS GOMES E JOSÉ SANTINI - Jornalistas
joao.carlos.los@gmail.com
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
A inveja é uma merda
Prá mim inveja é pinto. Tiro de letra, porque tenho mais o que fazer. Nelson Rodrigues repetia sempre que a inveja faz mal prá quem a sente. Devora por dentro. Corrói as entranhas. Zuenir Ventura também tratou do assunto com maestria: O certo é que não existe aquilo que as pessoas chamam de “inveja boa”, toda inveja é destrutiva, se não for destrutiva é vontade ou admiração. Também não se pode confundir a inveja com o orgulho ou a cobiça. Nesta o objetivo principal é a obtenção do que se deseja, e não o fracasso de seu possuidor, naquele deseja-se manter o que já se tem, de preferência sem dividir o prazer e a glória com ninguém. Nada disso é inveja! A inveja se caracteriza pelo mal olhado do invejoso sobre o invejado. Ele não deseja o que o outro tem, mas sim que o outro deixe de ter, seu total fracasso, para que com isso se sinta realizado e feliz. É um sentimento realmente muito egoísta, e mal na mão dupla. Você sabe que não é capaz de atingir tal objetivo, sabe que fulano é perfeitamente capaz, mas torce para que ele não consiga também para se ferrar junto com você. É o não suportar o sucesso alheio.
Sobressair, destacar… não é isso que buscamos diariamente? Não são esses os degraus no caminho do sucesso? Mas a inveja não quer saber de subir degraus, ela quer ver os outros tropeçarem e rolarem escadaria abaixo… Não é saudável como o ciúme que nos faz querer manter o que temos, que nos deixa com aquele medo de perder que nos faz preservar. A inveja nos deixa roxo de raiva de um ser inocente que não nos fez mal algum, apenas foi bem sucedido em alguma coisa.
Não necessariamente o invejoso é mal, muitas vezes invejamos sem perceber, como por impulso, algo mais forte que nós e muitas vezes quando percebemos que estamos desejando mal para uma pessoa da qual gostamos e nos sentimos mal e culpados. A inveja é assim mesmo, como uma serpente, ela chega sorrateira, nos pica e quando menos percebemos já estamos destilando veneno. Não vou confessar meus pecados invejosos aqui, pois essa é mais uma características deste pecado, a inveja é inconfessável. Também já ouvi comentários maliciosos a meu respeito que só podem ter sido pronunciados por inveja, mas essa é outra de suas características, ela só nos atinge se nos deixarmos atingir. O invejoso nem sempre tem consciência de o que sente é inveja, ele confunde com ciúmes, raiva, desejo… a inveja é uma palavra tão forte, um pecado tão feio, que nunca é cometido de mente sã. Ela é injustificável.
O que podemos fazer é, sempre que esse monstrinho verde tentar se aproximar de nós, refletirmos racionalmente sobre a situação invejada e ver se ela nos provoca raiva o suficiente para desejarmos o mal de seu precursor. Normalmente é mais fácil sentir raiva do que lutarmos para nos igualarmos ou superarmos. É mais fácil tentar tombar do que nos esforçarmos um pouco mais. Mas não adianta, nosso olhar só vai atingir o ser invejado se ele assim permitir. De qualquer forma somos impotentes apenas invejando e é aí que os bons e os maus são selecionados. Os maus reagem com raiva e destruição, os bons com inteligência e perspicácia e acabam atingindo seus objetivos superando a inveja e atingindo o sucesso.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Carta a uma jovem atriz
Ontem voltastes ao palco de onde destes os primeiros passos para a glória.
Estavas deslumbrante, inebriante, primorosa, essencial em seu trabalho.
Nem lembravas aquela menina rechonchundinha, pura, sedenta por aprender e que foi acolhida com tanto carinho nas nossas oficinas de iniciação ao teatro.
O tempo para ti passou célere. O suficiente para cresceres rapidamente como crescem as celebridades, os verdadeiros artistas.
Hoje és uma atriz. Pro-fi-ssi-o-nal.
Visceral, criativa, impecável. Uma Duse, uma Montenegro, uma estrela, verdadeira estrela.
Sua interpretação consolida o domínio das nuances só possível às grandes interpretes. És no palco o fluído mais refinado da arte dramática.
Você não pode imaginar o prazer que tivemos ao vê-la novamente em nosso modesto palco, mesmo porque, além de grande atriz, és possuidora de caráter irreparável. Não és daquelas que costumam cuspir no prato que comem.
Só ficamos um pouco tristes, porque nosso modesto espaço, “sem estrutura”, não estava à altura de seu talento. Um pouco tristes por obrigados cobrar um pequeno óbolo retirado da bilheteria. Infelizmente ainda necessitamos de donativos. Espero que sua imensurável generosidade possa falar mais alto e nos perdoar por isso. Na verdade, nossa vontade, era de poder pagá-la pela noite memorável que nos proporcionou. Mas isso ainda é impossível. Somos apenas um teatrinho sem estrutura, uma escolinha para iniciantes.Um grupo de "bobos Plin" lutando para que muitos outros tenham a mesma oportunidade que tiveste um dia.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Ontem o telefone não parou. Amigos, imprensa, boêmios de souza e outros desocupados queriam saber minha opinião sobre a nomeação de Adriana Silva que vai comandar a Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto em 2009.
Passei a tarde repetindo o que venho repetindo há muito tempo: Com um por cento no orçamento, nem o Danilo Miranda conseguiria fazer nada.
Então acredito que a primeira missão é tentar reverter essa situação de miséria e desprezo pela cultura. A segunda,ir buscar verbas no Governo Federal. Lá tem muito dinheiro para bons projetos.
No mais, espero que a Secretária dê um pouquinho de atenção para o teatro, esquecido pela Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto, há décadas.
Ribeirão tem a Feira do Livro, o Marp, o Mis, o Sabbart, Galeria a Céu Aberto,o Salão de Humor, Encontro de Folias de Reis, Feira de Artezanato, o Tanabata, Café Com Chorinho, Orquestra Sinfônica, o Juventude Tem Concerto, o Dança Ribeirão... Mas há "séculos" não consegue sequer organizar um festival ou mostra local de Artes Cênicas.
É muita falta de competência perto de cidades de menor porte como Rio Preto ou Lins que já têm eventos internacionais na área.
No mais, vamos torcer por Adriana.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
África Ensina
Beira (Moçambique) – Malua, de catorze anos de idade, apaixona-se por Ângelo de quinze anos, um colega da escola. Ele quer ter relações sexuais com ela, mas ela consegue convencê-lo a esperar e continuam a sua amizade, apoiando-se mutuamente nos estudos. No entanto, quando o pai de Malua descobre sobre Ângelo, entra em pânico porque quer que a sua filha se case com um amigo de 40 anos que tem muito dinheiro para lhe pagar um bom dote pelo casamento. Ele diz à mãe de Malua que a sua filha tem de sair da escola para casar com um homem mais velho.
Os pedidos desesperados da mãe de Malua para que a filha continue na escola caem em ouvidos surdos e tornam o seu marido agressivo. Malua está desesperada, mas é obrigada a deixar os estudos, abdicar do rapaz de quem gosta e casar com o homem mais velho. Após alguns anos, o marido morre vítima de doença relacionada com a AIDS, deixando-a também infectada com HIV.
Por acaso, Ângelo encontra-se com ela. De início não reconhece Malua, que envelheceu bastante, mas quando a reconhece, declara-lhe o seu amor eterno. Malua sente o mesmo, mas, explica que tem oito filhos para cuidar e que é soropositiva. Ângelo desiste dela. A história de Malua é uma peça de teatro encenada para uma multidão atenta no mercado de Munhava, o subúrbio mais populoso da Cidade da Beira na província de Sofala, num sábado à tarde.
“O que faria você se fosse Malua? Conseguiria convencer Ângelo a ficar?” pergunta ao público motivado o Curinga Zaibota do grupo de teatro de Kurarama. O público tenta, vestir as roupas de Malua e convencer Ângelo a ficar com ela. Tanto mulheres como homens estão ansiosos por participar no teatro.
A maioria não consegue mudar o curso da peça apesar dos seus esforços ansiosos. Inês, de vinte e três anos de idade, voluntaria-se para participar na peça. Ela argumenta, de forma persuasiva, que é importante deixar Malua continuar a estudar, realçando o valor da educação. O ator do grupo de teatro que faz o papel do pai olha para ela como se estivesse a mudar de idéias. No entanto, é o público que tem de decidir se os argumentos de Inês são convincentes.
O Curinga pergunta à multidão, “A Inês mudou a situação?” A multidão concorda. “Sim,” gritam entusiasmados. A rapariga recebe uma T-shirt de recompensa. Inês, casada e com um filho de colo, diz que ela sempre soube que a educação é importante. Apesar de ter desistido da escola mais cedo do que queria, na oitava classe, planeja regressar aos estudos com o marido.
È assim que a África está tentando resolver seus principais problemas sociais. Usa o teatro como instrumento de transformação social. Ao longo do país, grupos de Teatro do Oprimido envolvem centenas de adolescentes e jovens dedicados. O Grupo de Teatro do Oprimido de Maputo é uma associação cultural que movimenta mais de 3.000 atores e com atividade em áreas de desenvolvimento comunitário. O GTO trabalha com variados temas, desde HIV/SIDA, Drogas, Meio ambiente, Direitos Humanos, Criança, Cidadania, Democracia, corrupção dentre outros.
É triste olhar para o Brasil à partir do Continente Africano e constatar que a absoluta maioria dos municípios brasileiros sequer conta com um grupo de teatro e que, a técnica do Teatro do Oprimido, foi criada por um brasileiro. Na verdade, Augusto Boal só é pouco conhecido e praticado no Brasil.E no Brasil dia 20 de novembro é feriado.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Sem Chance
Pelo segundo ano consecutivo a Funarte escolheu Ribeirão Preto para sediar o Encontro Nacional de Coros Cênicos.
Durante toda a semana passada, o Espaço Cultural SantelisaVale recebeu grupos que vieram de várias partes do País.
Um verdadeiro festival de técnica apurada, criatividade e multiplicidade cultural.
Apesar da diversidade, os grupos tinham algo em comum: Todos cantaram a Paz.
O encontro terminou domingo e na segunda ligo o rádio, a televisão, compro jornais. Homicídios, furtos, pedofilia, drogas, estupro, violência. Nos canais a cabo as raves e o colunismo mundano.
Nenhuma linha, nenhuma matéria, nenhuma entrevista, nenhuma nota sobre o II Encontro Nacional de Coros Cênicos.
Nenhuma chance para a Paz.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Filhos? Melhor não tê-los
Ontem o jornalista Ozéias Tolentino chegou ao happy-hour do Jockey desolado.
Passou o final de semana procurando entender por que seus dois filhos vivem tão alienados. Vão as aulas na universidade, sim. Mas, ocos. Não lêem nada, nunca foram a um concerto sinfônico, ignoram cinema, teatro ou qualquer outra atividade que fale diretamente aos ideais superiores, à reflexão como exercício de sabedoria.
-Não consigo entender, só vivem nas raves, em churrascos ou nas centenas de botecos espalhados pela cidade. Quando em casa, estão no MSM, Orkut...
Julinho Trentini que perde o amigo, mas, não perde a mania de provocar, meteu a colher:
- Ozéas, você se lembra de quantas vezes na vida você levou seus filhos ao teatro? A concertos sinfônicos? Quantas histórias você leu a eles quando ainda crianças? Quantas vezes você deixou de ir a um churrasco para acompanhá-los a uma feira de livros, por exemplo?
Com os olhos marejados nosso afável confrade cearense não se fez ofendido:
- É verdade. Tens razão. E justo eu que passei a vida escrevendo sobre isso. Alertando sobre isso. Cai na armadilha: façam o que eu falo... Deleguei aos professores.
Do outro lado da mesa, querendo tirar da seringa, o professor Marino Maradei sentenciou:
- É como age a maioria dos pais. Nós professores temos boas intenções, mas...
Julinho golpeou rápido. No fígado:
-Ora, Marino... De boas intenções o inferno está cheio. Professor, hoje, ou vive de licença, ou está preocupado em dar sua aulinha medíocre e sair logo para a mesma festa dos alunos... Me diga uma coisa: Há quanto tempo você dá aulas?
-Vinte e seis anos...
-Nestes 26 anos, quantas vezes você recomendou a seus alunos uma peça de teatro que tenha assistido. Quantas foi ao teatro? Quantas vezes os organizou em grupos para acompanhá-los a um concerto, a uma feira de livros, a uma exposição, a um espetáculo de dança?
O longo silêncio que se seguiu só foi cortado pela voz torniturante do poeta Bosco Martins:
-Filhos? Melhor não tê-los...
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Atores pelados
Continua repercutindo a declaração do Pedro Cardoso sobre a nudez no cinema e teatro. O confrade Agamenon Mendes Pedreira entra na polêmica e escreve:
O maldito Acelerador de Partículas da Suiça, continua causando estragos à Humanidade. Primeiro foi a crise financeira mundial e agora surge uma nova onda, o neocaretismo não liberal, que está tomando conta do Brasil. Num manifesto estético de fundo moralista, o ator Pedro Cardoso protestou contra a nudez e a pornografia no cinema e teatro. Ora,bolas (as duas)!), eu não posso concordar com a opinião do meu amigo Pedro Cardoso. Eu só vou ao cinema e ao teatro pra ver mulher nua. Se não tiver mulher nua, um caco de peito ou uma lapa de bunda , qual é a graça?Na verdade, Prego Cardoso é mordido de cobra com essa questão de aparecer nu em cena. Nos anos 80, enquanto participava de uma reprodução brasileira, Pedro teve que ser substituído por um dublê numa cena de sexo. O dublê era um jumento. Segundo o diretor do filme, Anibal Massaini, o troca-troca se deu porque o talentoso comediante não tinha massa de vídeo. É por isso que ele é o famoso Agostinho ( e não o Agostão) da “Grande manilha”, quer dizer, “família”.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Julinho e os artistas
O enfant terrible Julinho Trentini resolveu aporrinhar um grupo de atores e atrizes reunidas em torno de uma cerveja no Bar do Jockey ontem.
Primeiro fez ao grupo a pergunta que sempre fazemos àqueles que se interessam pelo fazer teatral, ou seja, por que você faz teatro?
Como sempre a resposta foi unânime: Amamos o teatro!!!
Julinho que perde o amigo, mas não perde a mania de provocar, propôs então uma sabatina no estilo CQTESTE aceita por todos.
Pergunta número 1: Quem é o Chaves?
Essa foi fácil. Todos responderam corretamente:
-É o personagem principal do seriado exibido há séculos pelo SBT.
Pergunta número 2: Quem é Zidani ?
Fácil também. Todos acertaram.
-Zinédine Yazid Zidane é um ex-futebolista francês. Jogou pelo Real Madrid, Juventus, Bordeaux, Seleção da França. Enquanto atuou, Zidane foi considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos.
-Vocês estão indo muito bem!Pergunta número 3:
-O que aconteceu com a Argentina na Copa da Alemanha em 2006?
-A seleção da Argentina foi eliminada nas quartas-de-final pela Alemanha nos pênaltis. A Argentina começou bem no Grupo da Morte, o grupo mais díficil da Copa da Alemanha de 2006. Os argentinos estrearam com uma vitória por 2 a 1 sobre a Costa do Marfim. No segundo jogo golearam a seleção da Sérvia e Montenegro por 6 a 0 e terminaram a primeira fase com um empate sem gols com a Holanda. Nas oitavas-de-final a Argentina superou o México por 2 a 1, com um gol na prorrogação. Nas quartas-de-final os argentinos não resistiram a pressão da torcida anfitriã.
-Bravo!Pergunta número 4: Maradona?
-Tá de brincadeira, Julinho? Maradona foi um dos maiores jogadores de futebol da Argentina e do Mundo. Foi até comparado ao Pelé. Faz pergunta mais difícil... Porra.
-Tá bem. Vocês fazem teatro, não futebol... Então respondam: Que autor criou os personagens Regan, Cordélia e Goneril. Em qual peça da dramaturgia universal elas estão inseridas?
Diante do silêncio, Julinho emendou a segunda da série:
-Como se denominam os filhos de Édipo na tragédia escrita por Sófocles? Além de Édipo, Sófocles escreveu mais alguma “pecinha”?
-Garçom, a conta! Tá tarde gente... Tchau, Julinho... Amanhã tem Formula 1...
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Onde está o ator ?
Não há teatro sem ator. Não há ator onde não haja o comprometimento com a arte, com a cultura. Com objetivos claros de comunicação, com o espectador. Não há ator onde não haja um profissional culto, participativo, solidário e crítico sobre o meio que está ligado. Um profissional ético e com excelência técnica.Que assuma com determinação suas escolhas e opções.Que desenvolva sua responsabilidade com prazer, levado pela vontade de crescimento.
Onde inexiste o ator culto e com excelência técnica, há um teatro que copia a si próprio, repetidamente, padronizado por estéticas enlatadas, estático. Há uma fórmula teatral viciada, um mercantilismo oportunista que transforma a arte num produto de prateleiras de supermercado de elites. Há um teatro pobre de idéias. Há a própria superficialidade.
Recentemente Antunes Filho afirmou que no Brasil de hoje, o principal inimigo do teatro é o próprio ator. Despolitizado, intelectualmente oco, sem o compromisso do viver teatral. Aquele que com todas as letras afirma amar o teatro, mas que sequer sabe como se chamavam as três filhas de Lear.
No Brasil de hoje, o ator, por incrível que pareça, só vai ao teatro quando há a oportunidade do palco. Raramente está na platéia. Não vai ao teatro. Não lê teatro. Não fala teatro. Não discute teatro.
Há àqueles que atravessam toda uma existência “profissional” sem se dar o prazer de conhecer letras de Tchécov, Ibsen, Shiller, Sófocles, Beckett, Oduvaldo Viana Filho, Strindberg, Shakespeare... “Interpretam” sem nunca ouvir falar de Stanislaviski, Mayerhold, Artaud...
Para que não digam que só criticamos, que só denunciamos, que aparecemos como possuídos por uma verdade, que não pretendemos, propusemos a criação de um espaço onde o fazer teatral possa ser refletido, analisado, pesquisado e experimentado, aberto à participação de toda a comunidade, de todos os criadores.
Acreditamos que já passamos da hora da convivência cultural. Da convivência artística. Convivência de experiências artísticas e pedagógicas. Convivência para um saber que necessita renovar-se.
Assim como diz Augusto Boal: “Toda gente poderá fazer teatro até mesmo os atores”!!!
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Gregor Samsa Vive
Acho que sonhei vendo televisão ontem. Mais que isso: acho que tive um pesadelo kafikiano. Não pode ser realidade. Na TV THATHI, que exibia sessão da Câmara Municipal, o vereador Cícero Gomes da Silva, irado na tribuna, dizia ser impossível trabalhar na “casa” sem apresentar projetos inconstitucionais.
Em outro canal o Jornal da Globo apresentava pela milésima vez uma reportagem “completa” entrevistando casais que devido à crise estavam trocando viagens internacionais por pacotes turísticos no Nordeste.
Enquanto isso, o país pegando fogo. A polícia devolvendo uma jovem ao cárcere privado. Policiais civis e militares trocando tiros e tentando invadir o Palácio do Governo usando armas, gasolina e veículos fornecidos pelo Estado. Em Porto Alegre, o Governo Estadual botando os milicos na rua, mandou soltar a pua, bater, matar e prender. Em Ribeirão Preto, mãe de cinco filho menores era presa em flagrante ao tentar furtar uma lata de sardinhas num supermercado do Ipiranga.
Então viva o senhor Gregor Samsa que foi criado apenas para dizer, através da metáfora de sua existência, que as baratas são seres indispensáveis para a manutenção da natureza, ao funcionamento sistemático dela.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Anônimos covardes
Matéria publicada aqui sob o título Você Decide, datada de 13 de agosto, continua causando polêmica entre meus amigos leitores. Foi, até hoje, o texto mais comentado. Alguns inflamados fogem da essência e chegam até a agressões pessoais. Baixam o nível do debate levando-o do campo das idéias para o campo de futebol. O lado positivo é que, de maneira geral, podemos ver o grau de despolitização que cerca o debate. Na verdade, o artigo que gerou a polêmica, queixava-se exatamente desta realidade, ou seja, da falta de conteúdo político ideológico de alguns candidatos. Agora podemos constatar que o problema é também de eleitores. O que mais me chama atenção é que algumas postagens chegam com pseudônimos ou sem identidade verídica. Acredito que quem se esconde atrás do anonimato para debater idéias, é um covarde da pior espécie. Como toda virtude a coragem só existe no presente. Mas é verdade que continuar é recomeçar sempre e que a coragem, não podendo ser
“nem entesourada nem capitalizada” só continua sob essa condição, com a duração sempre incoativa do esforço, como um começo sempre recomeçado, apesar do cansaço, apesar do medo e por isso sempre necessário e sempre difícil... “È preciso, pois, sair do medo pela coragem”, dizia Alain; “e esse movimento, que começa cada uma de nossas ações, também está, quando é retido, no nascimento de cada um de nossos pensamentos.” O medo paralisa, e toda ação, mesmo de fuga, furta-se um pouco a ele. A coragem triunfa sobre o medo, pelo menos tenta triunfar, e já é corajoso tentar. Qual virtude, de outro modo? Qual vida? Qual felicidade? Um homem de alma forte, lemos em Spinoza, “esforça-se por agir bem e manter-se alegre”, confrontando com os obstáculos, que são muitos, esse esforço é a própria coragem.
Por se tratar do bem comum, dos destinos da humanidade, política não é lugar para covardes. Aliás, nenhum lugar é.
Àqueles candidatos que se escondem no anonimato ou através de seus assessores, que por sua vez se escondem sob pseudônimos, não merecerem pertencer a classe política, ou mais, não merecem seu voto. E basta isso.
sábado, 30 de agosto de 2008
Polígono encanta
Bravo! O Theatro Pedro II viveu ontem uma noite memorável. Será praticamente impossível esquecer o espetáculo apresentado pela recém criada São Paulo Cia de Dança na sua estréia ribeirãopretana. Não sou especialista em balé, como tantos que lá estavam. Fui como público normal. Saí, como público, encantado. Se a proposta da São Paulo é tornar a dança cênica acessível o objetivo foi cumprido. Clássico e contemporâneo em um só espetáculo na concepção cênica do coreógrafo italiano Alessio Silvestrin para a Oferenda Musical de Bach. Cenários completam a magia...
Mais que isso: no elenco dois bailarinos com formação em escolas de Ribeirão Preto, Adriana Amorim e Yoshi Suzuky. Ambos selecionados numa audição competidíssima entre bailarinos do Brasil e exterior.
Hoje o espetáculo volta a cena. Que volte a Ribeirão sempre.Bravo !!!
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Não tenho medo de farda
Sou cidadão brasileiro, não tenho medo de farda,pois vivo numa democracia, e tenho o direito de externar minha opinião, já que a Folha de ontem deu espaço razoável a um general, que disse que ‘ o Exército é fervorosamente contra essa reserva, a ponto de haver motim se a demarcação for continua ‘.
Exijo que ele diga como sabe que o Exército brasileiro todo é fervorosamente contra a demarcação. De onde ele tem essa informação?
E como pode um general dizer que haverá motins no Exército Brasileiro se o nosso Supremo não decidir como ele pensa.
O ministro da Defesa já tem essa informação?Ele já passou as palavras desse general ao presidente de nossa República?
Também sou oficial do Exército e tenho certeza de que esse general precisa voltar a ler o manual de postura militar.
General não fala. General obedece, e para isso é pago. Militar não pode falar em política. Muito menos nos ameaçar com motins.
Este texto foi publicado hoje no Painel do Leitor da Folha e assinado por Maurício Galan, de Curitiba.
Acho que nem é preciso comentar. Afinal todas as vezes que o Exército, contrariando o manual, se mete em política, dá merda.
E por falar em Exército, quase caí da cadeira ontem durante o debate entre os candidatos a prefeito de Ribeirão Preto na TV Clube. Foi quando o candidato Rubens Chioratto declarou que estudou nos cursos da ADESG a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra.A Adesg, que fez fama nos anos de chumbo,detém precioso acervo de estudos estratégicos em diversas áreas e os usa para fustigar os movimentos sociais brasileiros, principalmente o MST.Rubens é candidato pelo PSOL. Durma-se com um barulho destes.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
O repórter Maurílio Moraes, da Gazeta de Ribeirão, pergunta a Cícero Gomes da Silva:
_ Vereador, o que o senhor tem a dizer sobre as contas da Câmara de 2005, que foram julgadas irregulares por unanimidade pelo Tribunal de Contas do Estado.
_ Não vou responder. Está no recurso ainda. Só isso. Está dentro do prazo.
_ O senhor vai devolver o dinheiro que recebeu como verba de representação, como determinou o conselheiro Antonio Roque Citadini?
Vereador partindo pra cima do repórter:
_Eu não quero falar com você, rapaz !!!
Ao ver que o repórter fotográfico Lucas Mamede havia começado a registrar a cena o vereador recua e completa:
_ Você é mau caráter.
Este “diálogo” foi registrado ontem e aconteceu na rampa de acesso ao plenário da Câmara Municipal de Ribeirão. Não aconteceu porque Moraes estava lá passeando. No exercício de sua profissão, o jornalista estava apurando informações sobre as contas de 2005 que foram rejeitadas, mais uma vez, por unanimidade, pelo Tribunal de Contas do Estado. Em 2005, Gomes da Silva era o presidente da Casa. Em 2002 as contas também foram consideradas irregulares com o vereador no mesmo cargo. Entre os problemas apontados pelos técnicos do TCE está o valor pago como verba de representação para o presidente. No voto do conselheiro Antonio Roque Citadini está à recomendação para que Cícero Gomes da Silva devolva o dinheiro.
Esta não é a primeira vez que jornalistas são ameaçados ou mal tratados por vereadores na Câmara Municipal de Ribeirão Preto.
Resta saber então quem é o mau caráter.Quem sabe o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo tenha a resposta...
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
A Ribeirão que só a Globo vê
Em 1974, o economista Edmar Bacha cunhou expressão Belíndia para definir o que seria a distribuição de renda no Brasil: uma mistura entre uma pequena e rica Bélgica e uma imensa e pobre Índia .
Lembrei da expressão ao assistir uma matéria sobre Ribeirão Preto no Globo Repórter. É inacreditável. Os jornalistas da Globo continuam caolhos. Só têm olhos para a Fiúsa , a doméstica que subiu na vida , as super agências de automóveis da Vargas, as lojas do Boulevard ou as mansões da Califórnia Brasileira que limitam-se entre Lagoinha e Ribeiranea.
Com certeza, na segunda feira, depois do programa, um batalhão de migrantes colocou o pé na estrada rumo à Ribeirão que fica além do horizonte. Quando chegarem, seus horizontes serão uma das dezenas de favelas da cidade. Somarão ao exército de excluídos que não encontram trabalho por falta de qualificação profissional, escola para os filhos e por aí vai. É muita irresponsabilidade deste jornalismo impreciso e falacioso. Este fato lembrou-me também de uma declaração recente do Cícero Sandroni sobre ética jornalística : Não acredito que exista uma ética profissional e sim pessoas éticas. A ética é uma coisa só. A maneira de impedir o jornalismo irresponsável é adequar as empresas a uma posição ética. Para se chegar nesse estágio as empresas de mídia precisam ser fiéis e objetivas com o público e oferecer informações de modo bem feito e eficiente. O que importa para o leitor é credibilidade, informação verdadeira. E basta isso.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Teatro de Senhoritas:Uma Nova Geração de atrizes
Perto de cem pessoas tiveram o privilégio de assistir neste final de semana “Entre Divas e Senhoritas” que a Cia. Teatro de Senhoritas apresentou no Espaço Cultural SantelisaVale aqui em Ribeirão Preto. Um espetáculo extraordinário que remeteu o público a uma experiência emotiva, sensorial... Ao apagar das luzes na platéia, surgiu no palco duas jovens atrizes brilhantes: Sandra Pestana e Isis Madi. Ambas extremamente competentes e talentosas. Não bastasse isso, elas também criaram o texto a partir de um bem cuidado trabalho de pesquisa. Foram às raízes da história do teatro paulista. Buscaram entre atores e atrizes que “viveram” a era TBC, depoimentos que souberam transformar em delicada e emocionante dramaturgia. Além da construção das personagens, texto, cenas, propuseram figurinos, cenários, encenação... Ao trabalho impecável das atrizes soma-se o de Débora Zamarioli que dirigiu o espetáculo. Zamarioli imprimiu à cena um jogo de interpretações verdadeiras e distanciamento. Sua direção é limpa, direta , criativa,simples. A simplicidade leva o público a um mergulho nos meandros da imaginação, reflexão e a catarse tão difícil de ser encontrada nos palcos atualmente. A direção é segura e chega plenamente à realidade que se propõe mostrar, ou seja, “as expectativas e desilusões do ofício de ator do ponto de vista feminino”.
O amigo Luis Cláudio pergunta: mas cem pessoas na platéia não é pouco?
Não, não é pouco. Hoje acredito firmemente que o teatro não é uma arte de massa. Quem vai ao teatro é uma minoria que ainda quer pensar, sentir, emocionar-se, refletir, ver arte. E foi com essas sensações vividas que o público deixou o Espaço Cultural SantelisaVale depois de ver essas verdadeiras novas divas do teatro paulista no palco.
sábado, 16 de agosto de 2008
Voltando ao Você Decide
Um comentário,postado neste blog, assinado por Nei,apesar de confuso contesta o meu alerta para candidatos oportunistas. Ele denúncia preconceito à “crítica” que eu teria assinado a candidatos “mauricinhos” e “big-broters”(postagem de 13 de agosto). Não escrevi sobre mauricinhos. Quem o fez, em um comentário aqui publicado, foi a jornalista Ana Alice das revistas Caros Amigos e Raça. Mas concordo com a Ana. Não em relação a Tuca Nassif ou Junior Spagnolo. Pouco os conheço. Nem sabia que eram candidatos. Mas em relação ao oportunismo, reafirmo tudo que escrevi. E mais: Tenho preconceito sim, com os carreiristas, alpinistas eleitorais, despolitizados.Mas como o Nei, só entendeu o que a ele interessa, devo reforçar. O mínimo que se espera de alguém que se candidata a um cargo político é que seja politizado.Engajado.Empenhado em explorar ao máximo estas características. Com o desejo de colocá-las a serviço dos trabalhadores e não dos burgueses, dos povos e não dos impérios, da liberdade, do conhecimento e não do embrutecimento.Alguém que proclame compromissos com o coletivo, com os direitos e conquistas sociais, o trabalho e os trabalhadores. Que tenha conteúdo, enfim. O restante não merece comentário.E basta isso.
Quanto ao que o Nei escreve sobre aplausos,prestígio,sonhos, isto não tem a menor importância. Não estou aqui para receber elogios e nem para agradar ninguém.O que publíco assino como cidadão. A vida da ONG Ribeirão Em Cena é de um coletivo que independe das minhas convições políticas.
Espectadores matam atores de Romeu e Julieta; é García Lorca
O Público é, provavelmente, a obra mais controversa do poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca (1898-1936). Não só pelos temas de que trata, mas também pelo fato de ter sido tomada, durante muito tempo, como uma obra inacabada. O dramaturgo, que dizia considerar a peça "irrepresentável", deixou três manuscritos diferentes do texto.
Censurados pela família, esses fragmentos só foram reunidos muitos anos após a morte de Lorca, chegando finalmente a uma forma final. A peça, que agora é encenada no Brasil pela primeira vez, parte de um mote aparentemente simples: os espectadores de uma montagem de Romeu e Julieta, de Shakespeare, assassinam os atores que interpretam o casal depois de descobrir que eles são homens.
O mais interessante, entretanto, é que esse início, aparentemente realista, abre espaço para a criação de uma dramaturgia em que o que predomina é a fantasia. Ainda que seja uma crítica à moral burguesa e à intolerância, a peça não segue as estruturas dramáticas tradicionais.
A um só tempo erótica e política, inspira-se no surrealismo, apoiando-se em personagens "impossíveis" — cuja composição não obedece às regras de verossimilhança — e na predominância de imagens poéticas no texto.
Iconoclastia
Fruto de muitos meses de pesquisa, a montagem do grupo paulista XPTO tem o mérito de exercitar, na cena, uma leitura própria dessa fantasia lorquiana. O conflito entre autoridade e liberdade, entre desejo e interdição, que marca toda a obra do autor, ganha uma tradução cênica em que o acento permanece todo o tempo na crítica do comportamento.
Do ponto de vista cênico, o diretor Osvaldo Gabrieli optou por representação carnavalizada, que exige o apoio firme dos intérpretes. Apesar de o elenco ser jovem, os atores respondem bem a essa dramaturgia complexa, embrenhando-se na paisagem de imagens e palavras da peça.
Também é digna de nota a direção musical de Beto Firmino, que criou uma trilha com função narrativa indispensável ao espetáculo. As canções, compostas sobre os poemas de Lorca, colaboram em muito com o que as cenas têm de mais comovente.
É preciso observar que muito da iconoclastia formal deste "drama impossível" se esgotou dos anos 30 para cá. Por outro lado, é estimulante perceber um grupo de artistas que ainda considera o teatro uma arte capaz de fazer frente às estruturas carcomidas da sociedade e à intolerância. De todas as virtudes que O Público tem, essa é a mais importante.
O texto acima foi publicado na revista "Bravo" deste mês e também está no site Vermelho.Achei importante compartilhar com leitores deste blog.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Curtas e grossas para o final de semana
* O “Tribuna” desta sexta informa: Palloci participará da campanha do candidato do PT em Ribeirão.
Assim fica claro que Feres Sabino não quer ganhar a eleição.
* Apesar da tentativa de suborno ao delegado Protógenes Queiroz ter sido exibida para todo o país pela televisão, o Ministro Eros Grau mandou soltar Humberto Braz. Grau justifica que não julgou se Braz é culpado ou inocente, mas sim se havia fundamentos para a prisão preventiva. Deficientes visuais irlandeses reunidos na Praça da Paz Celestial, enquanto aguardam o início da Paraolimpíada, pediram exame antidoping para Eros Grau.
* O advogado do jovem que atropelou o frentista está oferecendo 40 mil de indenização a vitima. Durma-se com um barulho destes...
* Continua sem solução o caso Pedrinho.A polícia ainda aguarda laudos.
*Dica para se divertir no final de semana:Conversar com candidatos a vereador em campanha no calçadão.
Marcia Delmondes em Ribeirão
A experiência de passar pelo Grupo Raça Cia.de Dança Contemporânea
coloca a professora Márcia Delmondes, 31, entre os mais qualificados profissionais da área no Estado de São Paulo. Apesar das poucas vagas, Márcia foi contemplada em 2007, com uma bolsa de estudos integral no “Raça”, grupo referência na dança contemporânea brasileira.
Durante dois anos em contato com o grupo, a metodologia influenciou a carreira de Márcia Delmondes. "As aulas são programadas em módulos que duram aproximadamente dois meses. Elas são compostas por: aquecimento, barras, solo, seqüência coreográficas. Preparam muito bem as pessoas. O trabalho é intenso e isso faz com que o bailarino consiga visualizar, absorver e compreender minúcias de uma coreografia, explicou Márcia.
Dentre as técnicas ministradas pelo grupo, alguns itens merecem um destaque maior. "É muita disciplina. Existe uma preocupação com a progressão. De tudo, o que a gente mais aprende é a presença de palco", disse Márcia, que leciona há 15 anos.
Contratada pela Rose Ballet School, Márcia Delmondes chega a Ribeirão Preto para ministrar aulas de ballet clássico, contemporâneo e jazz.
Raça Cia. de Dança
O Raça Cia. de Dança é dirigido por Roseli Rodrigues, um nome conhecido no cenário da dança brasileira, considerada uma das referências da dança no Estado de São Paulo. Inspirada na música e na garra traduzida pela música “Raça” de Milton Nascimento, Roseli cunhou o nome Grupo Raça que, durante os anos 80 se firmou no cenário da dança do país como uma das mais importantes companhias de jazz dance. Ao longo dos anos, a companhia se transformou numa referência dentro da cena contemporânea brasileira da dança. Mário Nascimento, Ivonice Satie, Luis Arrieta, Henrique Rodovalho, são alguns dos coreógrafos que o Grupo Raça teve oportunidade de trabalhar em seus 26 anos de trajetória.
Em 2001 e 2002, com o apoio da Funarte e Ministério da Cultura, o Grupo Raça circulou com espetáculos e workshops por Minas Gerais e São Paulo e, como convidado, realizou uma turnê pelas cidades de Roma, Terni, Salermo, Tagliacosa, Crotone, Enna, Calabicheta, Piazza Armería e outras cidades da Sicília. Em 2004, apresentou-se em Portugal no 39º Festival de Sintra, e em 2005 foi convidado especial para Noite de Gala do 23º Festival de Joinville. Em 2008, a companhia foi selecionada para o Panorama Sesi de Dança.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Crime ecológico coletivo
A maioria das pessoas ainda não se deu conta da catástofre que está acontecendo no subsolo. Registra-se um rebaixamento assustador nas reservas do Aqüífero Guarani no lençol ribeiropretano. A reposição, segundo especialistas, levaria, no mínimo, 300 anos. Apesar disso o desperdício irresponsável continua. Principalmente nos bairros de elite, onde, nos prédios de alto luxo, lava-se as calçadas diariamente com máquina tipo wap. Mais ainda: principalmente nos vazamentos sob a responsabilidade, ou irresponsabilidade, do Daerp.Consta que dos vazamentos do Daerp jorram milhões de litros dia. Mas como tudo tem um porém, o jornal Gazeta, de hoje, publica que a cobrança pela água do aqüífero e dos rios vai ser cobrada as empresas,produtores rurais e Daerp. Medida acertadíssima. Mesmo porque dizem que o arrecadado vai ser usado no combate ao desperdício. Resta saber por que esperar até 2010? Com esse desperdício incontrolável como chegaremos a 2010? Secos? Levando em consideração que o consumidor brasileiro só “acorda” quando mexem com seu bolso, passou da hora de o Daerp criar também uma tarifa social para o pobres e aumentar pra valer o valor cobrado dos novos ricos da Fiusa e adjacências onde o desperdício é vergonhoso do ponto de vista da cidadania, da falta de consciência, para não dizer da ignorância.
Em tempo: O Shoping Santa Úrsula é um exemplo da falta de respeito ao coletivo. Quem quiser comprovar é só passar pelo local.No período da manhã a calçada é “varrida” todos os dias com milhares de litros e máquina wap.Tem mais: há anos um rio vaza do shoping na esquina da Garibaldi com Prudente. É tanta água que até lodo formou no asfalto.
Desculpem a repetição, mas para acompanhar esta triste realidade só mesmo relendo o Brecht que segue abaixo.
AOS QUE VIEREM DEPOIS DE NÓS
Bertolt Brecht
(Tradução de Fernando Peixoto)
É verdade, eu vivo num tempo sombrio!
Uma palavra sem malícia é sinal de tolice.
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ri
Ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
Falar sobre árvores é quase um crime
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que atravessa a rua tranqüilo
Já está inacessível aos amigos
Que passam necessidades?
É verdade: eu ainda ganho bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso.
Nada do que faço
Me dá o direito de comer quando tenho fome.
Estou sendo poupado por acaso.
(Se a minha sorte me deixa, estou perdido.)
Me dizem: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que eu posso comer e beber
Se a comida que como, tiro de quem tem fome?
Se a água que bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas mesmo assim, eu como e bebo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Se manter afastado dos conflitos do mundo
E passar sem medo
O curto tempo que se tem para viver;
Seguir seu caminho sem violência;
Pagar o mal com o bem;
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim!
É verdade, eu vivo num tempo sombrio!
Eu vim para a cidade no tempo da desordem
Quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
E me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas.
Para dormir, eu me deitei entre os assassinos.
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a Natureza.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado dado viver sobre a Terra.
No meu tempo as ruas conduziam ao lodo,
E as palavras me denunciavam ao carrasco.
Eu podia muito pouco, mas o poder dos patrões
Era mais seguro sem mim, espero.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado dado viver sobre a Terra.
As forças eram limitadas.
O objetivo permanecia a uma longa distância.
Era nitidamente visível, mas para mim
Quase fora do alcance.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado dado viver sobre a Terra.
Vocês, que vão emergir
Das ondas em que nos afogamos.
Pensem, quando falarem das nossas fraquezas,
Dos tempos sombrios de que tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através das lutas de classes,
Mudando mais de país do que de sapatos,
Desesperados quando só havia injustiça
E não havia revolta.
Nós sabemos:
O ódio contra a baixeza
Também endurece o rosto;
A cólera contra a injustiça
Também faz a voz ficar rouca.
Infelizmente nós,
Que queríamos preparar o terreno para a amizade,
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
Em que o Homem seja amigo do Homem,
Pensem em nós
Só com bondade
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Você decide
Está impossível andar pela cidade sem ser interrompido por eles. Afinal são mais de trezentos, se não me engano. Parece que tem representantes de todas as camadas. Podres de rico e pobres. Tem até um ex-Big-Brother. Se bom representantes, ainda não sei. Os que me abordaram até agora, decepcionaram. Nem demagogos conseguem ser. Entregam um “santinho”, sorriem, se apresentam... Mas fogem correndo quando perguntamos sobre suas intenções, ideologia ou programa do partido.Alguns sequer sabem a que partido pertencem. É claro que essa conduta é regra nacional, mas, como moro aqui, a primeira impressão que fica desta eleição para a Câmara Municipal de Ribeirão Preto é que ela está repleta de oportunistas. De quem está apenas de olho no salário e nas mordomias que advêm com o cargo. Bons candidatos, sim, também tem. Mas com poucas chances. Historicamente o eleitorado de Ribeirão Preto é conservador.Só renova entre 10 e 20% da edilidade a cada eleição, mesmo sabendo (82% dos entrevistados por uma pesquisa), que candidatos eleitos não cumprem promessas de campanha e que agem apenas em benefício próprio. Então fodam-se.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Satie
A Dança no Brasil ficou hoje mais pobre. Morreu, nesta madrugada a coreógrafa Ivonice Satie, aos 57 anos. Ela estava internada no hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.Lutava contra o câncer.
Entre 2003 e 2005, Satie foi diretora da Companhia de Dança do Amazonas, da qual ainda era consultora. Atualmente, era coreógrafa da Cia. Sociedade Masculina, em São Paulo.
Filha de imigrantes japoneses, a bailarina começou a dançar aos nove anos, na Escola Municipal de Bailados de São Paulo. Em 1968, entrou para o Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo, o atual Balé da Cidade de São Paulo, do qual foi diretora coreográfica por seis anos, na década de 90. Em 1977, ganhou o prêmio de melhor bailarina da Associação Paulista dos Críticos de Arte.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Ana e as Bigas
Ana Tomicioli não nasceu à jornalista brilhante que é. Antes de estudar jornalismo, foi modelo. A estréia diante das câmeras, nesta foto de 1986, enviada pelo amigo Luis Claudio Geteó, foi para divulgar produtos da empresa da própria família: Tomicioli Charretes. A origem é a Itália. Foi em Roma que os Tomicioli fabricaram, ainda no século XV, a primeira biga. Hoje a empresa, gigante do setor, também está no Brasil.Fica em Santa Maria (RS) e produz troles e carruagens.Essas últimas exportadas para Hollyood e para a própria Itália, usadas em filmes de Far West. Agora tá facil entender por que dizem que o Daniel puxa uma carroça por Ana.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Caiu o Ministério:Bastidores
Uma hepatite me afastou do elenco no final da temporada de “Um Bonde Chamado Desejo”, que Kiko Jaess dirigiu com Eva Wilma, Pepita Rodrigues, Nuno Leal Maia, Ivete Bonfá, Edney Giovenazzi, Rubens Rollo e Clemente Viscaíno. Quarenta dias no estaleiro em Pinhal e de volta a São Paulo encontro de cara o jornalista Hilton Viana de “O Diário da Noite” em frente ao Teatro Paiol:
-Rapaz, que coincidência te encontrar. O Osmar me ligou agora à tarde. Está que nem louco procurando um ator para substituir o irmão do Giba Um. A peça estréia em uma semana.O personagem tem a tua cara. É jogo rápido.
Entrei em parafuso. Eu? Indicado pelo Hilton Viana??? Trabalhar com o Osmar Rodrigues Cruz??? Era muita sorte!!!
Hilton não me deu tempo. Foi logo fazendo sinal para um taxi e em quinze minutos já estávamos conversando com o Osmar no saguão do Teatro Maria Della Costa. Eu não pude acreditar quando vi o elenco chegando:Cláudio Corrêa e Castro, Abraão Farc, Benjamim Catan, Toni Ramos, Marcos Plonka, Kleber Afonso, Carlinhos Silveira, Ézio Ramos, Nize Silva, Ana Maria Dias, Lilian Fernandes, Maria Yuma Nery, Amilton Monteiro, Felipe Levy, Gibe. Fiz um teste rápido e tremi quando soube que iria fazer “escada” para ninguém menos que Tony Ramo. Com um elenco destes, não podia dar outra: “Caiu o Ministério”, de França Junior, ficou dois anos em cartaz. Era uma família trabalhando junta. Mais que isso, criando sem cessar. Depois do primeiro ano vieram os cacos. Era preciso estar em alerta constante. Entravamos em cena prontos para improvisar diante das “pegadinhas” que eram preparadas sigilosamente nos camarins antes de cada espetáculo. Abraão Farc fazia o Ministro da Guerra. Criou um tipo maluco, que durante a cena reunindo o Ministério (a mais hilariante da peça), simulava um revólver com os dedos da mão e atirava disfarçadamente nos seus pares, entrincheirado entre as cadeiras. Os outros personagens, entrando na brincadeira, tentavam flagrar Abraão que escondia o revólver (mão) no bolso da casaca, provocando risos da platéia. Mais alguns minutos e lá estava ele novamente “atirando” nos Ministros às escondidas. Certa noite, Felipe Levy, chega ao camarim com um estranho embrulho e com cara de quem iria aprontar uma grande sacanagem. Não deu outra.Posicionou-se na coxia fingindo concentração.Aguardou o início da grande cena e quando Abraão Farc apontou o revólver imaginário na direção de Claudio Correa e Castro, Felipe Levy disparou. Um estrondoso tiro de festim quase “derrubou” o teatro. Silêncio sepulcral seguiu-se ao susto do elenco e público. Abraão refeito percebeu a sacanagem de Levy e começou a rir. O riso foi contagiando todos que estavam em cena. Virou gargalhada e o pior: Plonka contrai o maxilar para não rir e o esforço faz com que a prótese dentária que usava, caísse sobre o colo de Benjamim Cattan, sentado no sofá no centro do palco. Este ator extraordinário, também tentou segurar a gargalhada. Não conseguiu. E o esforço fez com que, literalmente, urinasse em cena aberta na calça de cetim roxa que usava. O público delirou. Como diria Nelson Rodrigues: Urrou. A situação ficou incontrolável. Ás pressas o contra-regra foi obrigado a baixar o pano. Só depois de uns quinze minutos, com o elenco recomposto, recomeçou o espetáculo com todos devidamente multados na tabela.
Lembrei desta história porque domingo passado vi Osmar Rodrigues Cruz na TV SESC , em um depoimento gravado, falando de Antunes Filho.Osmar faleceu ano passado.
Ando muito emotivo ultimamente. Chorei. Tenho muitas saudades de todos, principalmente do Osmar. Foi um verdadeiro pai para mim.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Vieira e o crápula envangélico
O ator Zé Mauricio Cagno recomendou, hoje pela manhã, a leitura do Sermão da Sexagésima do Vieira. Ansioso que sou, antes de ir até a livraria, corri para a Internet dar uma “olhadinha” no texto. Após leitura rápida e ainda superficial, deparo, ao lado do computador,com a edição desta quinta-feira de “A Tribuna”. Fotos de duas crianças torturadas ontem por um pastor da igreja Deus é Amor, em Sertãozinho, estão na primeira página.Não há adjetivo para qualificar semelhante barbaridade. Com o sermão de Vieira ainda na tela, fico pensando que talvez, em outros tempos, as pessoas eram mais qualificadas para “conduzir rebanhos”. Digo isso levando em consideração, é claro, a polemica histórica que cerca a passagem da Companhia de Jesus pelo Brasil Colônia e a dubiedade da atitude dos jesuítas e de outras ordens missionárias em relação à questão indígena. Ou ainda dos padres pedófilos da modernidade.O certo é que venho observando, que hoje, qualquer mentecapto pode abrir uma igreja, virar pastor e até bispo. A Lei que garante a liberdade religiosa pode ser considerada uma Lei? Sim, porque até onde eu enxergo, só consigo ver que essa Lei não regulariza absolutamente nada. Então, esses sem lei, estão por aí a enganar incautos, analfabetos e o mais humildes. A fera de Sertãozinho era pastor da Igreja Deus é Amor. O nome do facínora: Marcelo.
Não foi para a cadeia protegido por outra Lei: No Brasil agressão não caracteriza flagrante, segundo a delegada que “cuidou” do caso. Meu Deus!!!
Em tempo: No Rio de Janeiro outro Marcelo está em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais. Gabeira em último.
TRECHO SERMÃO DA SEXAGÉSIMA- Antonio Vieira
Antigamente convertia-se o Mundo, hoje porque se não converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obra são tiros sem bala; atroam, mas não ferem. A funda de David derrubou o gigante, mas não o derrubou com o estalo, senão com a pedra: Infixus est lapis in fronte ejus. As vozes da harpa de David lançavam fora os demônios do corpo de Saul, mas não eram vozes pronunciadas com a boca, eram vozes formadas com a mão: David tollebat citharam, et percutiebat manu sua. Por isso Cristo comparou o pregador ao semeador. O pregar que é falar faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras. Diz o Evangelho que a palavra de Deus frutificou cento por um. Que quer isto dizer? Quer dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? -- Não. Quer dizer que de poucas palavras nasceram muitas obras. Pois palavras que frutificam obras, vede se podem ser só palavras! Quis Deus converter o Mundo, e que fez? -- Mandou ao Mundo seu Filho feito homem. Notai. O Filho de Deus, enquanto Deus, é palavra de Deus, não é obra de Deus: Genitum non factum. O Filho de Deus, enquanto Deus e Homem, é palavra de Deus e obra de Deus juntamente: Verbum caro factum est. De maneira que até de sua palavra desacompanhada de obras não fiou Deus a conversão dos homens. Na união da palavra de Deus com a maior obra de Deus consistiu a eficácia da salvação do Mundo. Verbo Divino é palavra divina; mas importa pouco que as nossas palavras sejam divinas, se forem desacompanhadas de obras. A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos. No Céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de o amar. Na terra há tão poucos que o amem, todos o ofendem. Deus não é o mesmo, e tão digno de ser amado no Céu e na Terra? Pois como no Céu obriga e necessita a todos a o amarem, e na terra não? A razão é porque Deus no Céu é Deus visto; Deus na terra é Deus ouvido. No Céu entra o conhecimento de Deus à alma pelos olhos: Videbimus eum sicut est; na terra entra-lhe o conhecimento de Deus pelos ouvidos: Fides ex auditu; e o que entra pelos ouvidos crê-se, o que entra pelos olhos necessita. Viram os ouvintes em nós o que nos ouvem a nós, e o abalo e os efeitos do sermão seriam muito outros.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
FORA CHINA
Já não se fala mais em Daniel Dantas.Também conseguiram abafar as manifestações
pela libertação do Tibete que, segundo a BBC-Internacional, estão pipocando longe da mídia, em todo mundo. Aqui em Ribeirão estamos aguardando concentração marcada para sexta-feira durante a abertura oficial das Olimpíadas. Sobre o Tibete e Dalai Lama, o confrade Nélio Pavarelli escreve:
Há anos, a China mantém a posição de que o Dalai Lama representa um perigo à integridade do país por promover internacionalmente a independência do Tibete, invadido por tropas chinesas em 1950.
Muitos tibetanos acreditam que apenas o Dalai Lama pode salvar o Tibet da extinção.
Mas até mesmo o Dalai Lama é mortal. E eles estão profundamente ansiosos sobre o que vai acontecer quando o líder espiritual morrer.
Para os tibetanos, Dalai Lama não é apenas um monge budista, um deus e um rei (o mais recente na longa linha centenária de regras espirituais), mas um símbolo de uma civilização sem precedentes que vai além da vida.
Nos últimos 50 anos, do seu santuário no outro lado do Himalaia, o 14º Dalai Lama manteve vivo os seus sonhos de sobreviver como um povo isolado.
Muitos temem que sua morte acabe com a última chance de independência genuína.
Outros prevêem caos e sangue. Tibetanos extremistas poderão se sentir livres a recorrer ao terrorismo, dando espaço para que Pequim intervenha de forma mais dura.
Phuntsog Wangyal, da Fundação Tibet, baseada em Londres, acha que o carisma do atual Dalai Lama será difícil de ser substituído.
"Quem assumirá o seu manto? Não há ninguém equivalente a ele. Não acredito que qualquer pessoa possa ter a autoridade que ele tem", diz.
Vácuo
O Dalai Lama fugiu para a Índia em 1959 em meio a uma tentativa frustrada de combate à ocupação chinesa, que havia começado nove anos antes.
Desde então o líder espiritual tem sido a cara do Tibet na comunidade internacional. Ele já ganhou o Prêmio Nobel da Paz, já obteve apoio público de astros do cinema e apoio privado de presidentes e primeiros-ministros.
Mas nenhum país reconheceu o governo exilado do Tibet.
Samdhong Rinpoche foi o primeiro premiê eleito no governo exilado.
Ele foi escolhido em 2001 por membros da diáspora tibetana como parte de uma tentativa para democratizar um movimento que, durante anos, ficou em volta do carisma pessoal, da força espiritual e da alta reputação do Dalai Lama.
"Institucionalizando a continuidade da liderança, os arranjos estão agora prontos para evitar um vácuo e fazer o povo tibetano não tão dependente do Dalai Lama", afirmou Rinpoche à BBC.
O Dalai Lama disse esperar que o seu sucessor seja encontrado em um "país livre".
A China quer que o próximo Dalai Lama seja escolhido sob a sua supervisão.
Em 1995, o Dali Lama reconheceu, no Tibet, um garoto de seis anos de idade como sendo o sucessor do 10º Dalai Lama, Panchen Lama, que morreu em 1989.
A China prendeu o menino e escolheu um outro em seu lugar. O garoto original nunca mais foi visto.
FORA CHINA.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Revendo e revivendo outros tempos
Minha estréia como ator no teatro profissional foi em “Sonho de Uma Noite de Verão”, com direção de Kiko Jaees, no teatro Maria Della Costa No elenco estavam, entre outros:Jonas Bloch, Ivete Bonfá, Tereza Teller , Irene Tereza , Amauri Alvarez, Clemente Viscaino, Ronaldo Ciambrone, Olney Cazarré, Hilton Have e ninguém menos que Ewerton de Castro. A criação que fez para Puck entrou para a história do teatro brasileiro.Kiko quis um espetáculo acrobático. Todas as manhãs acompanhava Jonas e Ewerton a Academia da Polícia Militar onde ambos aprendiam usar o trapézio (desses de circo) Tive o privilégio em ver nascer o Oberon de Jonas e o Puck de Ewerton. O espetáculo começava com Jonas e Ivete descendo do urdimento através de um trapézio ao mesmo tempo que Everton surgia num imenso cavalo cenográfico, criado por José de Anchieta, e que também através da “maquinaria” descia do teto no palco. Do cavalo Ewerton saltava em um trapézio que o fazia voar até a metade da platéia e o trazia de volta ao palco. Assim começava o espetáculo.
Certa tarde o espetáculo foi vendido para um colégio. Os alunos já tinham chegado ao teatro quando chegou a notícia: havia caído uma barreira na estrada de Santos e Ewerton estava preso no congestionamento. Tinha ido gravar Mulheres de Areia em Praia Grande. Desesperado, Kiko me chama ao camarim –“Você conhece o texto do Ewerton. Vamos lá. Eis sua chance de fazer o papel principal”
Não deu tempo de dizer não e quando saltei para o trapézio não dei o impulso necessário. Não deu outra, o equipamento foi perdendo força e fiquei dependurado sobre a platéia. O maior mico da minha vida. Foi preciso chamar o contra-regra para, com uma escada, me retirar do trapézio. Enquanto isso o público morria de rir.Mas mesmo assim o espetáculo foi até o final, sem é claro, eu ousar fazer novamente as marcas acrobáticas.Lembrei dessa história porque acabo de reencontar Ewerton de Castro
(de quem inclusive fui padrinho de casamento com a Maria),aqui na Internet.Ewerton anda triste porque ainda não conseguiu reabrir sua escola de teatro fechada por falta de recursos. Mas o texto que vem abaixo é uma verdadeira aula. Divido com vocês:
'A profissão do ator não é fácil como parece. Em qualquer profissão onde a oferta de trabalho é menor do que a procura, você tem que fazer sempre o melhor. Tem que ser diferente e melhorar a cada dia. Tem que se aprimorar. Eu procuro incutir nos alunos, que o grande trabalho do ator é a pesquisa e o estudo profundo da personagem. Para que seja sempre colocado de lado a intuição, porque isso não tem consistência. Você pode até improvisar muito bem, mas é preciso dar uma base sólida e concreta à personagem para que ela exista e possa durar toda a temporada. E outra coisa muito importante: o trabalho do ator é se preparar hoje para o papel que estará fazendo daqui 20 anos. É preciso aprender o máximo de coisas porque, um dia, você vai precisar saber.', Ewerton de Castro – Ator,diretor e professor de teatro.
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